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Bulletin

Formação monástica hoje
(Primeira parte)

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Bulletin

A vida e a morte no ideal monástico

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Bulletin

Venerar os mais velhos, amar os mais moços

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Bulletin

Um Espelho da Vida monástica para hoje

Lei e Vida

Boletim da AIM • 2025 - No 128

Índice

Editorial

Dom Bernard Lorent Tayart, OSB, Presidente da AIM


Perspectivas

• Atualização das Constituições
Padre Aitor Jimenez


• A revisão dos textos jurídicos da Congregação Subiaco-Monte Cassino
Dom Étienne Ricaud,osb


• A CIB
Irmã Lynn Mckenzie, osb


• A Federação Nossa Senhora do Encontro
Irmã Marie Benoit Kaboré, osb


• Estatuto sobre o acompanhamento de comunidades frágeis e sobre a supressão de um mosteiro
Texto oficial OCSO


• Questões para dois novos presidentes de congregações
Dom Bernard Lorent Tayart, osb


Testemunhos

Encontrar a comunhão na mudança
F. J. B.Donleavy e P. J.George, osb


Reflexões

Reflexões sobre a presença/ausência dos monges na vida da Igreja hoje
Dom Manuel Nin i Güell, osb, Exarca


Uma página da história

O Concílio de Nicéia
M. Jerôme de Leusse


Grandes figuras da vida monástica

Dom Kevin O’Farrell
Dom David Tomlins, ocso


Notícias

• O Milênio de Montserrat
Dom Bernat Julio, osb


• Jubileu de Ouro da ISBF

Dom James Mylackal, osb

• Jubileu de prata do Mosteiro de Teok
Dom Sibi Joseph Vattapara, osb


• Dom Javier Suaréz
Informação de Sankt-Ottilen


• A Comissão sobre a China
Dom Bernard Lorent Tayart, osb

Sommaire

Editorial

Este novo número do Boletim da AIM oferece uma ressonância sobre a evolução permanente da vida monástica no mundo. A vitalidade dos monges e das monjas é acompanhada de uma orientação para o bem comum, por esta razão este número é intitulado “Lei e Vida”, a vida como sabemos, precedendo sempre o direito.

Hoje, um aspecto novo é aquele da evolução da solidariedade entre os mosteiros. Sob o impulso da Cor Orans (para as monjas), surgem novas federações ou novas congregações, considerando as comunidades isoladas ou frágeis e o engajamento em novas iniciativas. Isso se traduz também no direito por meio da adaptação das Constituições, como podemos observar, a título de exemplo, na Congregação Subiaco-Monte Cassino.

Oferecemos aqui também a palavra a dois presidentes de congregações recentemente eleitos (Sankt-Ottilien e Subiaco-Montecassino).

Dois testemunhos abordam a questão do lugar da vida monástica na Igreja, algumas vezes muito “ausente” e constantemente necessitada de renovação.

Como não fazer eco também aqui neste Boletim ao Jubileu do Concílio de Nicéia que marcou a emergência e o engajamento da vida monástica num século 4° fervilhante.

A evocação de uma grande figura da vida monástica é sempre estimulante: a de dom Kevin Farrell, primeiro abade da Trapa de Tarrawara (Austrália) é um exemplo.

Encontraremos enfim neste número notícias vindas de todos os continentes.

A título pessoal, duas viagens recentes me permitem colocar em evidência a vida monástica e a educação dos jovens.

A primeira foi a Nairobi, no Quênia para a preparação do 2° Congresso Africano sobre a Educação Católica, que se realizará em novembro de 2025. Uma bela ocasião para encontrar as autoridades acadêmicas de três instituições universitárias católicas: a Universidade das Conferências Episcopais da África do Leste, o Instituto dos Jesuítas e a Universidade Tangaza sustentada pela união de 22 Congregações religiosas. Os beneditinos estão bem representados pelo Padre Edward Etangu, responsável pelo centro de estudos de Sankt-Ottilien e chanceler da Universidade de Tangaza. Uma visita à comunidade de irmãs de Tutzing e à Madre Prioresa Rosa Pascal foi obrigatória. Uma comunidade muito simpática, composta por vinte irmãs, que dirigem uma escola de grande reputação em Nairobi.

A segunda viagem foi à Bengalore, na Índia, ao Mosteiro de Asirvanam onde estava sendo realizado o 50°aniversário dos encontros de superiores e superioras da Índia e do Sri Lanka. Os monges de Asirvanam são responsáveis por uma importantíssima instituição de educação que conta com milhares de estudantes, do maternal à universidade.

São Bento compara o mosteiro uma escola do Senhor. Muitas de nossas comunidades encarnam esta imagem se dedicando à educação e ao ensino. Podemos realizar belas coisas, mas é preciso também garantir que nossas escolas sejam santuários onde os jovens estão seguros, pois o perigo de abusos pode vir de fora, mas também de dentro. A “proteção” deve ser uma preocupação maior da parte de cada um e cada uma e é bom que as escolas beneditinas e também todos os nossos locais de acolhimento, estejam na vanguarda dessa luta contra os abusos.

O Papa Francisco retornou ao Pai após 12 anos de um pontificado fecundo, marcando a Igreja por meio da misericórdia, a sinodalidade, a ecologia e o diálogo interreligioso. Seu sucessor, o Papa Leão XIV, exprimiu-se inicialmente com as palavras do próprio Cristo Ressuscitado: “a paz esteja convosco”. Muitas regiões do mundo estão em guerra e encontramos nossas comunidades monásticas na linha de frente, ao lado das populações que estão sofrendo. Esta palavra de Cristo, pronunciada pelo novo Papa, os reconfortou em seus esforços permanentes como artesãos da paz, do acolhimento e da oração. Renovemos nossa comunhão entre nossas comunidades e com nosso novo Papa.

Dom Bernard Lorent Tayart,

Presidente da AIM

Artigos

Atualização das Constituições nas Congregações Religiosas

1

Perspectivas

Padre Aitor Jimenez Echave

Subsecretário do Dicastério para os Institutos de

Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica

 

Atualização das Constituições

nas Congregações Religiosas

 


Resumo do discurso do padre Aitor Jimenez Echave no Capítulo Geral da Congregação Subiaco-Montecassino (setembro de 2025).


 

Todo processo de modificação e de “aggiornamento” das Constituições é motivado pelas mudanças da vida humana, da pessoa, da sociedade e também da Igreja. Um processo de revisão nasce sempre de um olhar realista de como a vida é vivida e também nasce da necessidade de adaptação para responder aos desafios e exigências da Igreja e da sociedade, e também para eliminar tudo aquilo que seria um obstáculo ao acolhimento do Evangelho.

A necessidade impõe uma mudança para não permanecermos anacrônicos. Isso torna-se ainda mais verdadeiro se considerarmos que o mundo vive uma rápida mudança e não podemos adiar as modificações e o “aggiornamento”.

É necessário também ter sempre como ponto de referência o contexto eclesial e social no qual vive uma comunidade ou uma congregação, para evitar o erro de realizar uma reforma estranha ao contexto e à realidade vivida.

O corpus legislativo de uma família religiosa pode ser considerado como a expressão humana da aliança entre Deus e seu povo. Disso resulta que nenhuma lei ou norma pode ser compreendida unicamente em sentido literal, mas como a forma compreensível da linguagem que Deus fala a seu povo. É assim que podemos superar a dicotomia entre a lei e a pastoral, entre a lei e a vida.

Existem diversas maneiras de se posicionar diante de uma norma: no sentido negativo, podemos compreendê-la como um elemento simplesmente decorativo, ou como uma arma a ser usada, ocasionalmente, para defender-se ou obter alguma coisa que não está concedida.

Todo imobilismo deve ser evitado; ao contrário, é necessário estar pronto à mudança que auxiliará a desmascarar as incoerências da vida religiosa, sem temor das novidades e do diálogo com a realidade e com o contexto cultural e eclesial. É necessária portanto uma atitude de transparência para se entregar verdadeiramente a Deus e aos homens na consagração religiosa.

As Constituições podem ser compreendidas como uma peregrinação, um caminho de vida: elas devem construir e não esclerosar para tornar a vida credível. Elas servem para “constituir”, ou seja, para mostrar que pertencemos à uma família religiosa e para evitar a queda na libertinagem e na anarquia. Elas indicam, portanto, um caminho, desenham uma trajetória que todos somos chamados a seguir, cada um em seu ritmo próprio, mas todos com o mesmo objetivo.

A atualização das Constituições poderia representar uma moda passageira, sobretudo em nossa época. Ou, ela poderia também representar uma armadilha para os religiosos, cada vez que eles “vivem no barato”, relaxando a tensão espiritual e carismática do instituto e a radicalidade da sequela Christi, se adaptando assim aos usos e costumes do mundo.

Para reforçar precisamente a tensão espiritual, a referência à regra de São Bento e ao Magistério da Igreja, inclusive o anterior ao Vaticano II, permanece fundamental e indispensável, para garantir a continuidade histórica e carismática entre um passado distante e o presente. Isto contribui para colocar sempre em evidência a categoria teológica do “povo de Deus” e evitar assim a deterioração de uma vida comunitária cada vez mais individualista, sem vender o carisma e morrer de inanição.

O Decreto conciliar Unitatis redintegratio declara que a renovação da Igreja consiste na fidelidade crescente à vocação. Por isso, é importante eliminar tudo o que se opõe à renovação e ao estabelecimento de normas que favoreçam a fidelidade ao carisma. Nesse sentido, os mosteiros se encontram em contradição com a sociedade que vive, de maneira cada vez mais fraca, o conceito de fidelidade.

A desestruturação da vida consagrada é também uma questão importante, paralelamente a muitas tentativas de desestruturação atualmente em curso na sociedade. Essa tendência que também está progredindo na Igreja, suscita presentemente preocupação, porque pode nos levar assim, a perder de vista qual tipo de consagração podemos realizar, transmitir e oferecer. É por isso que toda atualização deve atingir os fundamentos das estruturas monásticas e oferecer uma alternativa válida a tudo o que a realidade social prega hoje.

As palavras do bem-aventurado Cardeal Pirônio sobre as mudanças legislativas permanecem plenas de significado: as mudanças devem fazer referência à inspiração original sobre a qual se baseia a vida religiosa. É preciso sublinhar a exigência fundamental da fidelidade e o sentido de pertença que estão na base da maneira de viver e do engajamento de cada um, e para o qual devem ser sacrificados também as comodidades e as aspirações pessoais.

Podemos destacar aqui do Decreto conciliar Perfectae caritatis (2-4), três pontos particularmente significativos:

• a melhor forma de atualização não poderá ser bem sucedida se não é animada pela renovação espiritual;

• a renovação e a adaptação nunca são realizadas de uma vez por todas, mas é preciso viver em atitude constante de atualização;

• a renovação consiste mais na maior observância da Regra e das Constituições do que na multiplicação das leis.

A revisão dos textos jurídicos da Congregação Subiaco-Monte Cassino

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Perspectivas

Dom Étienne Ricaud, osb

Procurador da Congregação de Subiaco Monte Cassino

 

A revisão dos textos jurídicos da Congregação Subiaco-Monte Cassino


 

O 21º capítulo geral da Congregação Beneditina de Subiaco-Monte Cassino[1], realizado em Montserrat de 30 de agosto a 8 de setembro de 2024, dedicou a maior parte de seu tempo à discussão e votação de um bom número de modificações em sua legislação. Por que tal trabalho?


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1. Natureza e função das Constituições de um instituto religioso

As Constituições de um instituto descrevem seu carisma, isto é, sua vocação própria (cf. Código de direito canônico, can. 578), elhe dão sua tradução jurídica, para regular a vida de seus membros e lhes fornecer normas de referência para todos os aspectos de sua vida religiosa: elas determinam suas estruturas essenciais, seu modo de governo, sua disciplina, a formação de seus membros, etc. em harmonia com o direito geral da Igreja, da qual não podem derrogar, elas o completam e definem.

Esses textos legislativos procuram evitar dois excessos opostos: uma redação muito espiritual, com considerações piedosas, ou ao contrário, um texto puramente técnico jurídico. Eles tendem a se exprimir de maneira concisa e clara, e mais precisa possível, a fim de evitar a imprecisão e a ambiguidade.


2. Por que reformular nossas Constituições?

As Constituições de um instituto religioso não são rígidas e podem evoluir, tendo como objetivo preservar o carisma original e adaptá-lo às condições presentes. Com efeito, as Constituições mudam, o instituto evolui, a legislação canônica da Igreja se modifica (desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco introduziu muitas mudanças), certas disposições tornam-se obsoletas, surgem novos problemas: torna-se necessário reformular as regras ou criar novas.

O Capítulo Geral de um instituto é em instância habilitado a fazer este trabalho, mesmo se os textos votados devam, em seguida, ser submetidos à aprovação da Santa Sé: não se trata aqui de um simples controle técnico, mas um processo de comunhão pelo qual a Igreja autentica a identidade do instituto, sua tradição jurídica e sua conformidade com o direito universal.

No entanto, antes de nosso Capítulo Geral, toda uma preparação foi realizada pela Comissão Jurídica da Congregação, e os mosteiros foram consultados sobre as modificações propostas: é normal que aquilo que deverá ser aplicado para todos seja primeiro submetido à reflexão de todos. Portanto, para aqueles que participam desse trabalho é um momento privilegiado de apropriação do carisma e das estruturas do Instituto.


3. Breve histórico desta revisão

Esta revisão não é certamente a primeira; ela vem na sequência das que marcaram a história da nossa Congregação. Notemos somente aqui as grandes etapas, desde as primeiras Constituições redigidas em 1867 e aprovadas pela Santa Sé em 1872, mas que, desde 1880, foram inteiramente renovadas para tornar-lhes mais conforme à tradição beneditina e às exigências do tempo. Essas Constituições, acompanhadas das Declarações sobre a Regra permanecem em vigor essencialmente até 1959[2]. O Concílio Vaticano II provocou a revisão do corpus legislativo e em 1967 foi aprovado um novo texto, confirmando em particular a divisão tripartida das Constituições aprovadas em 1959, partindo não pelo topo (como as Constituições de 1880), mas da base: os mosteiros (Título I), em seguida a Província (Título II) e, por fim, a congregação (Título III), o que corresponde melhor ao carisma beneditino. Embora esta nova versão parecesse ter adquirido sua expressão estável, foi preciso revisá-la em 1980 para se conformar ao Motu Próprio Ecclesiae Sanctae, que pedia aos institutos religiosos distinguir em sua legislação entre um codex fundamentalis, reunindo os princípios doutrinais e as normas jurídicas mais estáveis, e os códices additicii, contendo normas secundárias e adaptáveis. Depois, esses textos foram ainda retocados para estarem em conformidade ao Código de Direito Canônico promulgado em 1983, o que foi realizado no Capítulo Geral de 1988. Enfim, no decorrer dos Capítulos Gerais realizados desde então, foram feitas correções menores em1996, 2008 e 2012.

A revisão aprovada pelo 21° Capítulo Geral é modesta, pois ela não modifica a arquitetura de nossa legislação, porém mais ambiciosa que uma simples arrumação de texto, porque o altera e completa em pontos importantes e modifica nada menos que uma centena de números sobre os duzentos e quarenta e dois que compõem as Constituições e as OCG.

Segundo as distinções requeridas pela Santa Sé em 1980, nosso corpus legislativo se articula entre as Constituições, texto fundamental relevante de uma certa estabilidade, e os códigos secundários, textos de aplicação que especificam e desenvolvem as normas essenciais existentes nas Constituições: trata-se das Ordenações dos Capítulos Gerais (OCG) e provinciais (OCP). É preciso acrescentar aqui a Ratio formationis e a Ratio studiorum, textos que traçam para cada província o programa de formação e de estudos dos jovens irmãos, assim como os Costumes de cada mosteiro.

Este conjunto de leis, que é seguramente precedido pela Regra de São Bento, forma uma arquitetura complexa com várias camadas; quando o revisamos, é preciso vigiar constantemente pela coerência entre as camadas jurídicas, para que não haja contradições entre elas e a conformidade do conjunto com o direito geral da Igreja. Em nosso trabalho de revisão, tivemos que exercer constantemente esta vigilância, concentrando-nos em detalhes que não aparecem à primeira leitura. E no uso cotidiano, superiores e religiosos devem estar atentos para agir conforma o direito, levando em conta o Código de Direito Canônico, as Constituições e os códigos secundários.


4. Programa desta revisão

As modificações propostas e adotadas foram reagrupadas tematicamente em cinco partes.


A/ Diversos ajustes

Até 2011, foram identificados em nossos textos, erros e lacunas, bem como divergências entre certas traduções em língua vernácula e o texto original em latim (com adições não aprovadas) e referências incompletas. Tudo isso foi corrigido. Por uma questão de coerência, os números foram movidos dentro das Constituições ou OCGs, ou das Constituições para as OCGs e vice-versa, a fim de distinguir disposições mais estáveis de normas secundárias e adaptáveis.


B/ Votos dos Capítulos e Conselhos

As regras que regem as deliberações em um Conselho ou Capítulo foram esclarecidas. Deve ser feita uma distinção clara entre votos colegiados, em que é o próprio grupo que decide - por exemplo, durante uma eleição - sendo o superior apenas um dos votantes, e votos deliberativos ou consultivos, em que o grupo simplesmente dá ao superior seu consentimento ou opinião, para que ele possa ou não decidir e agir; nesse caso, o superior não participa da votação, pois não pode ser seu próprio conselheiro. Também foi necessário especificar o método para calcular a maioria dos votos. Nestes pontos reinava uma certa incerteza em nossas comunidades, pois nem sempre havia clareza sobre a diferença entre votação colegiada, votação deliberativa e votação consultiva, e os superiores nem sempre sabiam se e quando deveriam votar com seu Conselho ou Capítulo. As modificações adotadas esclarecem tudo isso. Do uso adequado dessas práticas de deliberação depende uma boa administração, evitando muitas vezes o abuso de poder e uma democracia lenta.


C/ Critérios e processo para a redução e supressão de um mosteiro

Nossa legislação foi originalmente concebida visando o crescimento das casas, desde sua fundação até sua autonomia; em nossos dias, especialmente na Europa, temos de reconhecer que o movimento se inverteu e que, muitas vezes, é necessário acompanhar o declínio das casas e ter procedimentos adequados para esse fim. É verdade que eles já existiam, mas a experiência recente mostrou que eram insuficientes e precisavam de mais precisão. As mudanças feitas proporcionam à nossa Congregação melhores ferramentas jurídicas para apoiar as casas enfraquecidas. O procedimento previsto tem três estágios: uma lista de critérios que permitem discernir que uma casa não está mais em condições de manter sua autonomia, um processo que visa fortalecê-la, primeiro com a ajuda do superior de uma casa mais forte e, depois, se os meios usados não derem certo, a redução dessa casa a uma casa afiliada à casa mais forte. Finalmente, se esse remédio não funcionar, a casa é abolida com respeito às pessoas e à propriedade.


D/ Governo do Abade Presidente e de seus Conselhos

Essa questão surge regularmente em nossa Congregação, porque o equilíbrio entre a autonomia dos mosteiros e o governo central deve ser sempre delicadamente equilibrado, de modo que “a Congregação, baseada nos princípios do pluralismo e da subsidiariedade, ajude os próprios mosteiros, fornecendo-lhes instrumentos jurídicos e assistência fraterna, por um lado, através das autoridades das Províncias, dirigidas pelo Capítulo Provincial e pelo Visitador com seus Conselhos e, por outro lado, através do governo geral exercido pelo Capítulo Geral e pelo Abade Presidente com seus Conselhos” (Constituições, nº 4). Parece que, quando os mosteiros ou as províncias estão em um estado enfraquecido, eles têm maior necessidade dos serviços do governo central. As mudanças adotadas proporcionam ao Abade Presidente melhores meios para cumprir sua missão, que consiste não apenas em confirmar, sustentar e estimular as províncias e os mosteiros em sua vida monástica, favorecer sua unidade e manter o vínculo com a Santa Sé, mas também em resolver problemas delicados que são encaminhados ao governo central ou mesmo à Santa Sé. E isso não falta!


E/ Superiores maiores não clérigos

A recente derrogação concedida pelo Papa Francisco aos institutos clericais de direito pontifício para que possam ter superiores maiores não clericais[3] foi examinada pelo Capítulo Geral, uma vez que, de acordo com a interpretação oficial dada pelo Dicastério para a Interpretação dos Textos Legislativos, cabe aos institutos como um todo, e não aos indivíduos em particular, decidir se desejam ou não se valer dessa derrogação. É por isso que o Abade Presidente Dom Guillermo Arboleda emitiu pela primeira vez um decreto sobre esse assunto em 9 de novembro de 2023, válido até este Capítulo, que o confirmou e incluiu suas disposições em nossas Constituições. De acordo com essas Constituições, nossa Congregação pode fazer uso dessa derrogação apenas para superiores maiores de mosteiros sui iuris, mas não para Visitantes ou para o Abade Presidente. Recordemos que um superior maior não clérigo não é Ordinário no sentido do cânon 134 § 1 do Código de Direito Canônico; consequentemente, os atos de um superior maior que requerem o poder ordinário de jurisdição, que deriva do sacramento da Ordem (cf. cân. 129 § 1; 274 § 1), devem ser realizados por alguém que não seja ele, dotado desse poder ordinário, que cabe a cada instituto prever e designar. As disposições adotadas pelo Capítulo geral determinam que esse será o Visitador para os mosteiros de sua província, e o Abade Presidente para os mosteiros fora de sua província; é por isso que o Capítulo conservou a disposição segundo a qual ambos devem ser sacerdotes (cf. Constituições n° 120; 138), gozando assim do poder ordinário de governo.

Esse trabalho canônico um tanto austero foi realizado pelo Capítulo com flexibilidade e sem tensão, e as propostas feitas foram todas adotadas em pouco tempo pela maioria necessária. A fase


[1] Pe. Josep Enric Parellada publicou um relatório no Boletim da AIM nº 127 (2024), p. 90-92.

 

[2] Ver Giuseppe TAMBURRINO, OSB, Lex militiæ nostræ. La legislazione sublacense nella sua evoluzione. Abbazia di Praglia/Congregazione Benedettina Sublacense, 2009.

 

[3] Rescrito de 18 de maio de 2025,, no 3.

 

Communio Internationalis Benedictinarum

3

Perspectivas

Irmã Lynn McKenzie, osb (Cullman, EUA)

Moderadora da CIB

 

Communio Internationalis Benedictinarum

Evoluções planejadas

 


A Communio Internationalis Benedictinarum (CIB) é a organização internacional de irmãs beneditinas fundada há cerca de 40/50 anos, a convite do Abade Primaz da Confederação Mundial dos Monges Beneditinos. A CIB reúne-se anualmente. Atualmente, as reuniões da CIB incluem uma delegada e uma suplente de cada uma das 19 regiões do mundo que a CIB estabeleceu há cerca de 30 anos. Além disso, a CIB é liderada por uma moderadora (atualmente Ir. Lynn McKenzie, OSB, Mosteiro do Sagrado Coração, Cullman, Alabama, EUA), uma moderadora assistente (atualmente Me. Franziska Lukas, OSB, Abadia de Santa Escolástica, Dinklage, Alemanha) e quatro outros membros do conselho (atualmente Ir. Cecile Lañas, Filipinas, Me.Maria del Mar Albajar i Viñas, Espanha, Me.Anna Brennan, Reino Unido, e Ir.Hilda Scott, Austrália), bem como uma secretária executiva (Ir.Mary Luke Jones, EUA).

Desde 2021, durante a pandemia, a Conferência de Delegadas da CIB tem se reunido virtualmente e discutido uma possível mudança na estrutura da CIB. Até agora, a CIB tem sido um órgão “associado” dentro da Confederação Beneditina. Em nossa reunião de setembro de 2023, realizada em meu mosteiro natal em Cullman (Alabama, EUA), continuamos a discussão, liderada pela Comissão de Estudos Jurídicos da CIB. Essa Comissão é presidida pela Ir. Scholastika Häring (Alemanha) e os outros membros são Ir.Nancy Bauer (EUA), Ir.Patricia Henry (México) e Ir.Noemi Scarpa (Itália). Somos gratos pelo trabalho que elas realizaram nos últimos anos, estudando nossos documentos atuais e imaginando outra forma de ser a CIB.

Uma proposta de mudança que está sendo estudada atualmente é imaginar dois ramos iguais da ordem beneditina - aquela do ramo feminino na CIB e outra do ramo masculino na Confederação. A CIB seria dirigida por uma Moderadora que, embora não tenha conhecimentos técnicos, teria a responsabilidade em tempo integral de estabelecer vínculos com os beneditinos em todo o mundo e de fazer a ligação entre as beneditinas e o Abade Primaz e a Confederação, bem como com o Dicastério do Vaticano para os Institutos de Vida Consagrada. Seria uma estrutura paralela à Confederação.

O órgão de tomada de decisões da CIB (atualmente chamado de Conferência de Delegadas da CIB) teria uma nova estrutura que não seria mais baseada em regiões geográficas, mas em congregações e federações, muitas das quais foram formadas desde a época do Cor orans, o documento do Vaticano que exige, entre outras coisas, que os mosteiros femininos de monjas façam parte de uma congregação monástica ou de uma federação. As responsáveis dessas congregações e federações, como as Presidentes e Prioras Gerais, seriam membros desse órgão decisório da CIB. Para congregações mistas de irmãos e irmãs, a congregação deverá determinar quem será o representante da CIB dentre as irmãs da congregação mista.


As Delegadas da CIB no Congresso de setembro de 2024.
As Delegadas da CIB no Congresso de setembro de 2024.

Esses são os elementos básicos de uma CIB reestruturada, com muitos detalhes práticos ainda a serem trabalhados. A Comissão de Estudos Jurídicos da CIB apresentou suas propostas à Conferência de Delegadas da CIB em setembro de 2023 e foi guiada em seu trabalho futuro pelas discussões que ocorreram entre as delegadas em Cullman. Os próximos passos foram discutidos na reunião da Conferência de Delegadas da CIB em Assis, antes da reunião do Congresso de Abades em Roma, em setembro de 2024. Um dos tópicos centrais dessa última reunião foram as mudanças estruturais propostas para a CIB, para que ela possa servir melhor às beneditinas em todo o mundo. De fato, o objetivo da CIB é construir uma forte comunhão entre as beneditinas. Tudo o que a CIB possa fazer para promover essa missão é o que ela deve ser. Tendo reconhecido, entre outras coisas, que nossa estrutura regional (há 19 regiões da CIB em todo o mundo, desenhadas de forma um pouco arbitrária) não funciona tão bem quanto poderia, dadas as dificuldades de comunicação, começamos a encontrar a melhor maneira de remediar isso. A comissão de estudos jurídicos nomeada pelo CIB está trabalhando para nos ajudar a encontrar um bom caminho a seguir.

A proposta geral de tornar a CIB uma organização paralela à Confederação Beneditina foi bem recebida e, em geral, aprovada por aquelas que participaram das reuniões da CIB desde 2021. A proposta de mudar de uma organização baseada em regiões para uma baseada em congregações e federações de beneditinas permitiria comunicações mais orgânicas por meio dos sistemas já empregados pelas congregações e federações. Essas propostas de mudança organizacional também foram apresentadas ao Congresso dos Abades em Roma, também realizado em setembro de 2024. As próximas etapas dessa reorganização da CIB incluem a elaboração dos Estatutos pela Comissão Jurídica e sua consideração na próxima reunião da CIB, a ser realizada em setembro de 2025, em Montserrat.

A Comissão Jurídica especificou os seguintes pontos:

1. consideramos a estrutura e a organização das irmãs beneditinas em todo o mundo. Não estamos considerando a estrutura jurídica, o estatuto jurídico no nível do próprio mosteiro, nem ao nível das congregações (de irmãs, monjas, femininas, mistas) e federações;

2. L’objectif est :

            - representar melhor as irmãs beneditinas;

            - estar em igualdade de condições com os monges;

            - ter nossa própria voz na Igreja;

3. nosso fundamento é o desenvolvimento da CIB nos últimos 50 anos sob a égide da Confederação dos Monges;

4. a visão é ter uma única Ordem Beneditina, com um ramo masculino e um ramo feminino.

Nossa vocação monástica, é claro, é buscar a Deus no mosteiro, a escola do serviço do Senhor. A maneira como isso é vivido localmente em todos os continentes, culturas e idiomas é um testemunho da sabedoria de São Bento na Regra que ele nos deixou. É um documento que fornece uma boa estrutura, ao mesmo tempo em que é flexível e adaptável aos irmãos e irmãs, em diferentes lugares, cada um com seus próprios desafios e lutas. Como podemos apoiar e desafiar uns aos outros a viver com alegria, fidelidade e fé, sendo estáveis em um mundo instável, fazendo o melhor para levar a luz que brilha em nossos corações, é um trabalho monástico diário dentro dos mosteiros da CIB. A CIB, uma comunhão de irmãs beneditinas, se esforça para apoiar esse modo de vida monástico que é vivido em todo o mundo.

A Federação Nossa Senhora do Encontro

4

Perspectivas

Irmã Thérèse-Benoît Kaboré, osb

Monja de Koubri (Burkina Faso)

e membro da Equipe Internacional da AIM


 

A Federação Nossa Senhora do Encontro

 


Para responder ao pedido da Constituição Apóstólica Vultum Dei quaerere sobre a vida contemplativa feminina e a Instrução de aplicação Cors orans, uma quinzena de mosteiros da França e de alguns países da África oeste, decidiram constituir juntos uma federação: A “Federação Nossa Senhora do Encontro”, que passou a existir oficialmente em 22 de fevereiro de 2022. Se já existiam laços entre a grande maioria desses mosteiros, a nova estrutura torna mais formal as relações e favorece uma maior comunhão.

Para uma melhor compreensão de nossa contribuição, começaremos com algumas considerações sobre o Cor orans antes de abordarmos as relações existentes entre os mosteiros da Federação Nossa Senhora do Encontro. Também falaremos igualmente sobre o vínculo que existe entre essa Federação e a Congregação de Subiaco-Monte Cassino.


1. Algumas considerações gerais[1]

A palavra federação deriva do latim foedus, que significa convenção, aliança, pacto, etc. O número 86 de Cor orans define a Federação nestes termos:

“A Federação é uma estrutura de comunhão entre os mosteiros do mesmo Instituto, erigida pela Santa Sé, para que os mosteiros que compartilham o mesmo carisma não permaneçam isolados, mas possam guardá-lo fielmente e, na ajuda fraterna mútua, vivam o valor indispensável da comunhão (cf. VDQ 28-30)”[2].

Cada mosteiro permanece autônomo, mas estabelece vínculos de comunhão com outros mosteiros que, na maioria das vezes, compartilham o mesmo carisma, como no caso da federação Nossa Senhora do Encontro, onde todos os mosteiros são de espiritualidade beneditina.

Com o advento do Cor orans e a multiplicação de federações que surgiram, pode-se pensar que a Federação é uma realidade muito recente. Mas, de fato, esse não é o caso. A Federação surgiu em meados do século passado, após a promulgação da Constituição Apostólica Sponsa Christi Ecclesia, de Pio XII, em 1950. Essa instituição nasceu como uma estrutura de ajuda, fraternidade e apoio mútuo. Para o Soberano Pontífice, os mosteiros poderiam, através da Federação, superar seu isolamento e, juntos, promover a observância regular e a vida contemplativa.

A Constituição Sponsa Christi Ecclesia encorajava fortemente as Federações, que eram vistas como uma necessidade em certos casos, mas não as tornava uma obrigação. Na mesma perspectiva, o Concílio Vaticano II, no decreto Perfectae caritatis, encorajava a criação de Federações entre mosteiros sui iuris pertencentes, de uma forma ou de outra, à mesma família religiosa, mas não obrigava ninguém a fazê-lo. O próprio Código de Direito Canônico não faz menção a nenhuma obrigação. Ele apenas enfatiza que a criação da Federação é reservada exclusivamente à Sé Apostólica (cf. cân. 582). Outra menção à Federação aparece no terceiro parágrafo do cân. 684, que trata da questão da transferência de um mosteiro para outro.

O mesmo se aplica à Instrução Verbi sponsa de 13 de maio de 1999, que define as Federações como “órgãos de assistência e coordenação entre os mosteiros, para que possam cumprir adequadamente sua vocação na Igreja. Seu principal objetivo é preservar e promover os valores da vida contemplativa dos mosteiros que a elas pertencem”[3]. Embora incentive fortemente esses agrupamentos, a Instrução tem o cuidado de especificar que “a decisão de aderir ou não depende de cada comunidade, cuja liberdade deve ser respeitada”.[4].

A liberdade dada a cada mosteiro para decidir se quer ou não se unir a uma Federação, conforme evidenciado pelos documentos citados acima, significava que, até o advento do Vultum Dei quaerere e do Cor orans, a maioria dos mosteiros femininos de rito latino permanecia sem nenhum vínculo com outros, e vários mosteiros na mesma região ignoravam uns aos outros. Com o Vultum Dei quaerere e o Cor orans, as coisas mudaram: pertencer a uma Federação se tornou uma obrigação para todos os mosteiros sui iuris: «De acordo com as disposições da Constituição Apostólica Vultum Dei quaerere, todos os mosteiros devem primeiro se unir a uma Federação».[5].

A Federação não é uma Congregação! É uma estrutura que respeita a autonomia dos mosteiros que a ela pertencem. Seus Estatutos não dizem respeito à vida dos mosteiros, que é regida pelas Constituições de cada mosteiro, mas sim à vida da Federação. Pensou-se que o Presidente Federal teria os poderes de um superior maior, mas essa escolha foi considerada inadequada, pois não haveria diferença entre um Presidente Federal e uma abadessa, presidente de uma congregação monástica. Portanto, a Presidente Federal não é uma superiora maior, mesmo que sua autoridade tenha sido ampliada. Ela só pode realizar o que está estabelecido na Instrução Cor orans[6]. Atualmente, ela tem três novos poderes:

a) O direito de acesso aos mosteiros federados: antes do Cor orans, o Presidente da Federação estava autorizado a fazer visitas fraternas aos mosteiros, mas o verdadeiro visitante era o bispo diocesano ou o Ordinário religioso masculino. A visita deveria ser pedida e a superiora do mosteiro precisava dar permissão para que o Presidente entrasse em seu mosteiro. Portanto, a visita tinha de ser solicitada e aceita. Atualmente, há três níveis de visitas:

1) visitas fraternas e amigáveis (cf. Cor orans 114);

2) visitas especiais, realizadas quando há problemas em um mosteiro, com a Visitadora da federação realizando uma investigação no local (Cor orans 113), e;

3) a visita canônica propriamente dita, onde a Visitadora da Federação acompanha o bispo diocesano ou o Ordinário religioso masculino, como co-visitadora. No entanto, deve-se observar que, mesmo que ela seja apenas uma co-visitadora, ela tem um papel muito importante a desempenhar durante a visita e mesmo após a visita.[7].

b) A extensão da exclaustração: alguém poderia perguntar por que o superior de um mosteiro sui iuris, que é um superior maior, não deveria ter autoridade para conceder exclaustração por três anos, como fazem os superiores maiores de outros institutos religiosos. Essa é uma questão legítima, mas o Dicastério decidiu de outra forma. O primeiro ano de exclaustração é concedido pelo superior do mosteiro e os prolongamentos do segundo e terceiro anos são concedidos pelo Presidente da Federação com o consentimento do Conselho da Federação (cf. CO 130).

c) A Presidente da Federação também deve dar sua opinião no caso de uma alienação ou outra transação na qual a situação patrimonial de um mosteiro da Federação poderia sofrer danos[8]. Essa disposição se afasta da norma do cân. 638 §4, que atribuía esse papel ao Ordinário local, que tinha que dar seu consentimento por escrito em tais situações.

No que diz respeito à estrutura da Federação, não há mudanças significativas, ou seja, ela permaneceu praticamente a mesma. O Presidente da Federação tem um Conselho de quatro pessoas (cf. CO 123). A Federação tem seus próprios poderes, ela dispõe de: um escritóriosocial, além dos quatro conselheiros, um secretário, um tesoureiro[9] e um instrutor[10] .

Em particular, a Federação tem um papel importante a desempenhar no campo da formação - formação de abadessas, noviciado comum, cursos para irmãs de votos temporários e muitos outros tipos de formação - bem como na ajuda a mosteiros em dificuldade. Com relação a esse último ponto, a Federação poderá facilitar a transferência de monjas, seja temporária ou permanentemente, para apoiar uma comunidade em dificuldade.

Além disso, Cor orans possibilita à Federação fundar ou afiliar-se a um mosteiro. Mesmo que ela não seja uma superiora maior, no caso de fundação ou afiliação, a Presidente da Federação atua como superiora maior.


2. A comunhão entre os mosteiros da Federação Nossa Senhora do Encontro

A comunhão é um traço característico da Igreja. Acabamos de vivenciar o Sínodo sobre a sinodalidade, que nos lembrou disso de uma maneira muito forte:

“Caminhar juntos, ser sinodal, é a vocação da Igreja [...] Os cristãos são chamados a caminhar juntos, nunca como viajantes solitários [...] Caminhar juntos é ser tecelões da unidade”[11].

É isso que os mosteiros de nossa Federação, cujo nome diz tudo, querem viver: “Nossa Senhora do Encontro”. Esse nome delineia todo um programa. Os mosteiros da Federação querem “desenvolver um coração que bate junto e por todos”[12]. Isso expressa claramente o desejo de viver a comunhão.

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Quanto maior a comunhão, mais caminhos de colaboração se abrem, mais oportunidades existem para ajudar e ser ajudado. Desse ponto de vista, as assembleias federais, assim como outras reuniões entre membros da Federação, são momentos poderosos de comunhão e partilhas enriquecedoras. Compartilhamos não apenas nossas dificuldades, mas também nossas experiências. Essas reuniões da federação nos permitem conhecer melhor uns aos outros. Elas também nos dão a oportunidade de apoiar e incentivar uns aos outros, de sair do isolamento e da solidão e conhecer outras pessoas. Quando você está em uma posição de força, pode ter a impressão de que é autossuficiente, que não precisa de outras pessoas. A experiência de fragilidade pela qual todas as comunidades passam, de uma forma ou de outra, nos faz entender o valor da comunhão, a necessidade de caminharmos juntos e de apoiarmos uns aos outros. Hoje, se quisermos ir mais longe, não podemos querer fazer um caminho isolados. O Papa Francisco, de venerável memória, não cessou de nos recordar constantemente disso nos últimos anos: “Não podemos nos salvar sozinhos. Nós também precisamos dos outros”.

A possibilidade de troca de serviços fraternos entre os mosteiros[13] um elemento precioso que convém sublinhar. Quando um mosteiro precisa de ajuda, os outros, às vezes, enviam irmãs para apoiar esse mosteiro. Dessa forma, a Federação é uma verdadeira estrutura de caridade viva.

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Em nome da Federação, os mosteiros da África Ocidental apoiam suas irmãs no mosteiro Santa Cruz de Friguiagbé, na Guiné Conacri. Sobre este ponto, é preciso reconhecer que os mosteiros da África Ocidental já estavam experimentando verdadeiras relações fraternas através da associação criada em 1980 pelas Madres fundadoras. É também em nome da Federação que a Abadia de Jouarre acolhe em seu EHPAD as irmãs idosas de outros mosteiros franceses da Federação.

As visitas fraternas por ocasião de certos eventos importantes, como a bênção abacial, a profissão solene, a dedicação da igreja do mosteiro, etc., são todos passos que expressam o desejo de caminhar juntos e de apoiar uns aos outros. Por exemplo, há dois anos, em nome da Federação, várias monjas de mosteiros franceses participaram da dedicação da igreja do mosteiro Bonne-Nouvelle em Bouaké, Costa do Marfim. Da mesma forma, vários mosteiros foram representados na profissão solene da Irmã Marie-Gertrude de Santa Cruz, de Friguiagbé, em dezembro passado. Foi particularmente notável a presença da Madre Abadessa Bénédicte de l’Assomption, de Dzogbégan, Conselheira da Federação, em vários desses eventos.

O elemento mais importante da estrutura da federação é a Assembleia da Federação, geralmente composta pela superiora e pela delegada de cada mosteiro. A Assembleia estabelece as orientações e os compromissos da Federação com referência aos Estatutos, que são então implementados pelo Presidente da Federação juntamente com o Conselho. A primeira Assembleia Geral da Federação foi realizada de 7 a 13 de novembro de 2022 em Jouarre. Sua tarefa foi eleger sua primeira Presidente, Madre Christophe Brondy, Abadessa de Jouarre. Juntamente com os membros do Conselho eleitos na mesma Assembleia, ela se comprometeu a liderar a Federação por 6 anos. Os preparativos para a Assembleia da Federação intermediária[14], que será realizada de 16 a 22 de novembro, estão em andamento, com várias reuniões on-line de superiores que apreciam essas oportunidades de trocar ideias e compartilhar experiências.

Está claro que a Federação funcionará enquanto for estabelecido um clima de comunhão, confiança e colaboração entre os mosteiros. Cada mosteiro deve compreender que não pode viver em total isolamento dos outros, nem se esconder atrás de sua própria autonomia para evitar ser incomodado ou ter de responder a alguém por suas ações. Cada um devem se sentir responsável pelo bom funcionamento da Federação.


3. Ligação entre a Federação e a Congregação de Subiaco-Monte Cassino

De acordo com os órgãos que encorajam “a associação jurídica dos mosteiros de monjas com a Ordem masculina correspondente, a fim de proteger a identidade carismática”[15], nossa Federação se voltou para a Congregação de Subiaco-Monte Cassino, uma Congregação com a qual todos os mosteiros da Federação já estavam associados de uma forma ou de outra. Essa associação oferece aos mosteiros da Federação uma ajuda inestimável, ligando-os à vida espiritual e às tradições da Congregação. Em particular, a Federação tem “a possibilidade de usar os indultos concedidos à Congregação de Subiaco-Monte-Cassino que possam dizer respeito à vida das monjas”. Da mesma forma, ela pode recorrer “ao Procurador da Congregação em assuntos relativos às relações da Federação com a Cúria Romana”. A Federação também pode usar o Ordo divini officii da Congregação. Também deve ser acrescentado que “o assistente religioso, representando a Santa Sé na Federação, é preferencialmente um abade ou um padre-monge da congregação Subiaco-Monte-Cassino”[16]. Dessa forma, a associação cria laços profundos de vida espiritual e fraterna com nossos irmãos da Congregação e nos faz sentir que somos verdadeiras filhas de São Bento. Isso é muito bom!

Mas será que podemos imaginar que um dia todos nós formaremos uma única Congregação? Não podemos deixar de sonhar! Mas, por enquanto, estamos tratando sobre a Federação. Ela tem um papel importante a desempenhar para dar um novo ímpeto à vida dos mosteiros. Para os próprios mosteiros, é uma questão de viver a autonomia em comunhão. É necessário hoje desenvolver uma mentalidade de comunhão mais ampla, de conhecimento mútuo e de disponibilidade às necessidades das diferentes realidades comunitárias que cada um dos mosteiros federados deve sentir como suas próprias...


[1] Sobre essas considerações, leia: O. PEPE, La federazione dei monasteri fra presente e futuro, in Sequela Christi, XLII (2016), 319-332 ; T.B. KABORE, Vie monastique et législation canonique, l’identité bénédictine face aux défis contemporains en Afrique de l’Ouest, Saint-Léger, 2023, 214-218.

[2] Cor orans 86.

[3] Verbi sponsa 27.

[4] Verbi sponsa 27.

[5] Cor orans 93.

[6] Cf. Cor orans 110.

[7] Cf. CO (Cor orans) 111-112 ; 115-116.

[8] Cf. CO 52-53.

[9] Cf. CO 134.

[10] Cf. CO 148.

[11] Papa Francisco, Caminhemos juntos na esperança, Mensagem para a Quaresma 2025.

[12] Esse foi o slogan da primeira Assembleia Federal.

[13] Fédération Notre-Dame de la Rencontre, Statuts, art. 6.

[14] Cf. CO 136.

[15] CO 79.

[16] Fédération Notre-Dame de la Rencontre, Statuts, art. 61.

Comunidades membros da Federação: Abadia de Pradines (França), Abadia de La Rochette (França), Abadia de Jouarre (França), Abadia de Maumont (França), Abadia de Chantelle (França), Abadia de Poitiers (França), Priorado de Bouaké (Costa do Marfim), Priorado de Friguiagbé (Guiné Conacri), abadia de Dourgne (França), mosteiro de Flée (França), abadia de Limon (França), abadia de Valogne (França), abadia de Venière (França), mosteiro de Urt (França), mosteiro de Sadori (Togo), mosteiro de Koubri (Burkina Faso), abadia de Dzogbégan (Togo).

Estatuto sobre o apoio à comunidades frágeis e sobre a supressão de um mosteiro

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Perspectivas

Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO)

 

Estatuto sobre o apoio à comunidades frágeise sobre a supressão de um mosteiro

 


1. Quando uma comunidade se depara com uma fragilidade crescente, ela é encorajada a enfrentar a situação com honestidade. Toda comunidade da Ordem, em todos os continentes, pode ser confrontada com essa fragilidade em algum momento de sua história. Nesse caso, é importante que a comunidade não se isole sob o pretexto de sua autonomia, mas que se perceba “como parte de uma verdadeira comunhão constantemente aberta ao encontro, ao diálogo, à escuta atenta e à ajuda mútua” (cf. VDQ 29). O Estatuto da Caridade também nos ensina a buscar e aceitar ajuda concreta “para viver da mesma caridade” (CC III.2).

2. “Em um espírito de docilidade à voz do Espírito Santo”, a comunidade discute a situação “com humildade e franqueza” (cf. C. 36.1). Todos são chamados à atenção mútua, à colaboração e à obediência. “A luz da fé é particularmente necessária nestes tempos difíceis, a fim de ver que o coração é formado pela experiência pessoal e comunitária da cruz, morte e ressurreição de Cristo” (Ratio 54).

Soluções criativas são necessárias nessas situações.

 

I. Consciência da fragilidade

3. Em primeiro lugar, é responsabilidade de cada comunidade, sob a orientação de seu superior, considerar sua situação de forma realista, não apenas do ponto de vista humano, mas, acima de tudo, do ponto de vista da fé. Uma experiência de fragilidade deve ser acolhida como um convite do Senhor para escolher a vida no Mistério Pascal.

4. No espírito do Evangelho, as comunidades devem pedir e aceitar a ajuda do Padre Imediato, da Região, do Abade Geral, do Capítulo Geral ou de outros. Os elementos a serem considerados na avaliação e no discernimento podem incluir

– o número de monges ou monjas;

– O perfil etário da comunidade;

– se ela tem a vitalidade necessária para viver a vida monástica;

– a capacidade da comunidade de oferecer formação e governança;

– a dignidade e a qualidade da vida litúrgica, fraterna e espiritual da comunidade;

– o valor de testemunho da comunidade e sua comunhão com a Igreja local;

– se a estrutura econômica é sólida

– se os edifícios são adequados para a comunidade atual.

Esses elementos devem ser considerados de uma forma global, em uma perspectiva equilibrada e no contexto da comunidade em questão.

5. Em uma situação de crescente fragilidade na casa-filha, o Padre Imediato deve ter a coragem de ajudar o superior local e a comunidade para enfrentar essa realidade. A visita regular é o instrumento mais apropriado para esse fim (Stat. RV 15).

 

II. Medidas pastorais e colaboração

6. Ao ajudar a comunidade a enfrentar sua situação, o Padre Imediato deve proceder com grande tato e caridade, confiando na ação do Espírito Santo em cada pessoa e na comunidade. Juntos, buscando maneiras de ajudar a comunidade a viver a plenitude da conversatio cisterciense. Essa situação pode desenvolver uma :

– tomada de consciência das mudanças na sociedade, da realidade dos jovens e da necessidade de mudar os métodos de formação;

– adaptação dos edifícios, a liturgia, os horários, o trabalho e a economia ao tamanho e às capacidades da comunidade;

– Mudança de oficial; ajuda por meio de membros de outras comunidades ou de fora da Ordem (por exemplo, para cuidados com a saúde, economia);

– trabalho para promover uma melhor comunicação dentro da comunidade ou promoção de reconciliação entre seus membros;

– busca de outras formas de assistência dentro da Casa-Mãe ou da Região;

– criação de uma Comissão para o Futuro.

7. O sucesso dessas medidas depende, em grande parte, da cooperação e da boa vontade de todos os envolvidos (comunidade, superior, padre imediato).

 

III. Fragilidade avançada: medidas especiais

8. Se, após todos esses esforços, a situação de fragilidade persistir, o Superior ou o padre Imediato, ou uma Comissão do Capítulo Geral, ou o Abade Geral, levará a situação à atenção especial do Capítulo Geral. Se o Padre Imediato julgar que a comunidade não pode mais formar novos postulantes, ele pede ao Capítulo Geral que suspenda seu direito de receber aspirantes ao postulantado, de acordo com o Estatuto 79.B.

9. Uma Comissão para o Futuro será estabelecida pelo Capítulo Geral, que incluirá o Padre Imediato e substituirá qualquer Comissão existente. O propósito e o mandato dessa nova Comissão serão especificados pelo Capítulo Geral. Em particular, ela garantirá que os bens temporais do mosteiro sejam bem administrados, de acordo com as Constituições e a lei civil do lugar, e salvaguardados em vista do possível fechamento do mosteiro.

10. Se a situação da comunidade ainda não melhorar, o Capítulo Geral, a pedido do Padre Imediato, pode suspender o exercício da autonomia da comunidade. Esse voto do Capítulo Geral requer uma maioria absoluta. O Capítulo Geral então nomeia um Comissário Monástico para cuidar dos membros da comunidade de modo que eles possam continuar a viver juntos tanto quanto possível. Esse Comissário, que pode ser de dentro ou de fora da Ordem, é um superior religioso maior de idade cuja autoridade é limitada ao significado da carta de nomeação. Ele/ela se reportará regularmente ao Padre imediato. Se essa pessoa ainda não for membro da Comissão para o Futuro, ela se tornará membro no momento de sua nomeação como Comissário Monástico. Em certos casos excepcionais e urgentes, o Capítulo Geral pode nomear o Padre Imediato como Comissário Monástico.

11. O Comissário Monástico não precisa morar no mosteiro. Ele/ela pode nomear outra pessoa para cuidar das necessidades diárias da comunidade, seja um membro da comunidade, outro membro da Ordem, um membro de outro instituto religioso ou até mesmo um leigo.

12. O Comissário Monástico escolhe pelo menos duas pessoas como conselheiros, que podem vir de dentro ou de fora da comunidade. Se necessário, esses conselheiros atuam como assessores do Comissário Monástico. O capítulo conventual é suspenso, exceto para atos de administração extraordinária e para o voto mencionado no número 19 abaixo. O Comissário Monástico mantém os membros da comunidade informados e ouve suas opiniões sobre assuntos importantes.

13. A suspensão do exercício da autonomia não altera a relação de filiação com a casa-mãe. O Padre Imediato continua a ajudar e apoiar o Comissário Monástico de sua casa filha no exercício de seu cargo (cf. C. 74.1). Todos os direitos e obrigações do Padre Imediato para com a casa-filha permanecem intactos, inclusive os da Visitação regular.

14. Se a comunidade cujo exercício da autonomia está suspenso tiver casas filhas, o Padre Imediato, em consulta com as casas filhas, decidirá como será realizado o exercício da paternidade.

15. Se a situação da comunidade melhorar e a comunidade e/ou o Padre Imediato for da opinião de que o exercício da autonomia pode ser retomado, um deles ou ambos informam o Capítulo Geral. O Capítulo Geral investiga o assunto e decide se a suspensão será levantada, o que requer o voto da maioria absoluta do Capítulo Geral.

16. Entre os Capítulos Gerais, em casos inadiáveis, o Abade Geral, com o consentimento de seu Conselho, tem o poder de agir em nome do Capítulo Geral em tudo o que foi indicado acima com relação à suspensão do exercício da autonomia de uma comunidade (C 82.2).

 

IV. O processo de supressão

17. Quando, devido a circunstâncias particulares e de longa data, um mosteiro não oferece mais nenhuma base de esperança de crescimento (cf. PC 21), considera-se cuidadosamente se ele deve ser fechado.

18. O bispo local deve ser consultado.

19. Quando a comunidade estiver ciente de que deve ser fechada, o Padre Imediato convida o capítulo conventual a expressar a aceitação dessa realidade por meio de uma votação que exija maioria absoluta.

20. Para considerar a supressão de um mosteiro, o Capítulo Geral requer um relatório escrito do Padre Imediato e um do Comissário Monástico, acompanhados de seu parecer sobre o assunto.

21m. Somente o Capítulo Geral, por uma maioria de dois terços, pode decidir sobre a supressão de um mosteiro autônomo.

21f. Somente o Capítulo Geral, por uma maioria de dois terços, pode pedir à Santa Sé a supressão de um mosteiro autônomo (ICI 616, 4).

22. Depois que o Capítulo Geral tiver votado a supressão de um mosteiro ou, no caso de um mosteiro de monjas, tiver votado para pedir à Santa Sé que o faça, ele nomeia uma Comissão de Fechamento composta de pelo menos cinco pessoas para implementar a supressão. Essa Comissão, que substitui a Comissão mencionada no parágrafo 9 acima, dá grande atenção pastoral aos membros da casa suprimida e cuida para que cada um encontre uma comunidade da Ordem que o acolha, com o objetivo de assegurar sua estabilidade. Todo membro da Ordem tem o direito e o dever de ter estabilidade em um mosteiro da Ordem, com todos os direitos e obrigações que isso implica.

23. A comunidade que aceitar tais membros de uma comunidade suprimida expressará sua vontade e seu compromisso por meio de um voto. Esse voto, que requer maioria absoluta, ocorre no momento da aceitação e não após um período de experiência. Será solicitado a esses novos membros de uma comunidade que tenham cautela no uso de seus direitos de voto recém-adquiridos.

24. Quando um membro idoso ou doente de um mosteiro suprimido precisa viver permanentemente em qualquer tipo de casa de repouso, uma comunidade da Ordem deve concordar em cuidar dele até a morte. Ele/ela adquire estabilidade nessa comunidade, mas, em vista de sua ausência física, o exercício de seus direitos de voto pode ser suspenso.

25. Os bens econômicos do mosteiro suprimido, de acordo com a lei civil local e a vontade dos fundadores e doadores, seguem os membros sobreviventes da comunidade e vão, em proporção, para os mosteiros que os recebem. Se esses bens forem substanciais, uma parte é reservada para ajudar outros mosteiros da Ordem e para atender às necessidades da localidade onde o mosteiro está situado. A gestão dessa distribuição de bens e de outros elementos do patrimônio do mosteiro (por exemplo, arquivos, biblioteca, etc.) é confiada à Comissão que supervisiona o fechamento. A Comissão pode ser assistida, se necessário, por pessoas competentes que não precisam ser membros da Ordem.

Se a comunidade tiver dívidas, a mesma Comissão as pagará, recorrendo aos ativos financeiros da comunidade antes de dividi-los, e recorrendo a outras comunidades ou órgãos da Ordem, como a Comissão de Ajuda da Ordem ou a Comissão de Finanças, se necessário.

26. Essa Comissão relata seu trabalho ao próximo Capítulo Geral e, nesse meio tempo, mantém o Abade Geral e seu Conselho informados sobre os acontecimentos.

27. Quando o processo de fechamento estiver totalmente concluído, o Capítulo Geral emite uma declaração de fechamento. O trabalho da Comissão de Encerramento chega então ao fim.

Perguntas para dois novos presidentes das congregações

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Perspectivas

Dom Bernard Lorent Tayart, osb

Presidente da AIM

 

Perguntas para dois novos presidentes

das congregações

 

As congregações de Subiaco-Montecassino e Sankt-Ottilien, duas das maiores da Confederação, elegeram recentemente seus Abades Presidentes: Dom Ignasi M. Fossas para Subiaco-Montecassino e Dom Javier Aparicio Suarez para Sankt-Ottilien. Os dois novos Abades Presidentes vêm da Península Ibérica. Esta é uma oportunidade para conhecê-los e perguntar-lhes sobre a administração da Congregação, a formação, a economia e a vida espiritual.

 

Antes de se tornar Presidente, qual era sua formação monástica?

P. A. Ignasi: Fui enfermeiro por quatro anos, secretário do Abade por cinco anos, ecônomo por seis e três anos, respectivamente, mestre de noviços por dois anos e meio, subprior por quatro anos e prior por dez anos.

P. A. Javier: Em 2010, fui nomeado superior da nossa comunidade na Espanha, no Caminho de Santiago de Compostela. Desde 2021, sou o procurador da congregação de Sankt-Ottilien, o que corresponde ao cargo de ecônomo geral.

 

Dom Ignasis M. Fossas, presidente de la Congregação de Subiaco-Montecassino, dom Javier Aparicio Suarez, presidente de la Congregação de Sankt-Ottilien.


I. O funcionamento da Congregação

Como você descreveria sua Congregação? Quais são seus principais carismas, o número de membros e casas, os idiomas usados?

P. A. Ignasi: A Congregação Sublassense-cassinense é uma congregação internacional que foi formada nos últimos 150 anos pela agregação gradual de mosteiros muito diferentes. A principal característica da Congregação é justamente sua diversidade. Há mosteiros com grandes escolas e, ao mesmo tempo, mosteiros localizados no meio do campo. Além disso, nossos mosteiros estão espalhados pelos cinco continentes.

P. A. Javier: Acho que somos uma Congregação muito dinâmica, com uma energia que vem justamente da combinação da dimensão monástica com nosso carisma eminentemente missionário.

Suas duas congregações são internacionais. Onde estão localizados seus mosteiros? Que idiomas vocês usam para se comunicar entre suas comunidades?

P. A. Ignasi: Como acabei de dizer, estamos estabelecidos em cinco continentes. Os idiomas usados são italiano, francês, inglês e espanhol, além dos idiomas locais.

P. A. Javier: Além da Austrália, temos mosteiros em quatro continentes, com uma forte presença na África e, é claro, na Europa, onde a Congregação se originou. O idioma oficial de nossas reuniões é o inglês, mas, devido ao nosso caráter internacional, aprender idiomas é uma ferramenta importante para realizar nossa missão.

Como é constituído o seu Capítulo Geral?

P. A. Ignasi: Nosso Capítulo Geral é composto por todos os superiores dos mosteiros sui juris, os visitantes das oito províncias que compõem a Congregação e os delegados de cada província (um delegado para cada cem monges).

P. A. Javier: Todos os superiores maiores de cada comunidade participam do Capítulo Geral, bem como um representante de cada mosteiro eleito pelas comunidades. Os membros do Conselho da Congregação também estão presentes e, às vezes, os superiores de algumas casas dependentes são convidados. E, finalmente, há um número considerável de assistentes: secretários, tradutores, etc.

Ela se reúne sempre no mesmo lugar?

P. A. Ignasi: Nem sempre. Geralmente nos reunimos na Itália um pouco antes do Congresso dos Abades, para facilitar a viagem dos monges de lugares distantes. Mas o último Capítulo Geral, em 2024, foi realizado em Montserrat para celebrar o milésimo aniversário da fundação dessa abadia.

P. A. Javier: Este ano, excepcionalmente, nos reunimos na abadia de Waegwan, na Coreia. Fora isso, o Capítulo Geral se reúne em Sankt-Ottilien, na Baviera.

Quanto tempo dura? Qual é a regularidade?

P. A. Ignasi: O Capítulo Geral se reúne a cada quatro anos e dura em média de cinco a sete dias.

P. A. Javier: Se não houver nada de excepcional para tratar, o Capítulo dura duas semanas e é convocado a cada quatro anos.

Como é formado o Conselho de sua Congregação?

O Conselho de Assiste Ignasi M. Fossas.
O Conselho de Assiste Ignasi M. Fossas.

P. A. Ignasi: Na congregação de Sublassense-Cassinense, o Abade Presidente tem dois Conselhos: o Conselho de Visitantes, que se reúne em maio e novembro; e o Conselho de Assistentes, composto por quatro monges, um dos quais é o Procurador, que geralmente se reúne uma vez por mês.

P. A. Javier: O Conselho é presidido, obviamente, pelo Abade Presidente, sendo formado pelo procurador e pelo secretário, que são propostos pelo Abade Presidente e confirmados pelo Capítulo; dois abades são eleitos como assistentes do Abade Presidente e cinco membros também são eleitos pelo Capítulo. Isso perfaz um total de dez membros.

Com que frequência ele se reúne? Presencialmente? Por Zoom?

P. A. Ignasi: Normalmente, as reuniões são presenciais, mas também há a possibilidade de usar o Zoom.

P. A. Javier: Nós nos reunimos duas vezes por ano, presencialmente, durante cinco dias. Além disso, temos reuniões regulares via Zoom.

Sua Congregação tem uma sede permanente?

P. A. Javier: A Casa da Congregação está localizada na Abadia de Sankt-Ottilien. O Abade Presidente, o Procurador e o Secretário residem lá.

P. A. Ignasi: Para nós, é em Roma, via Sant’Ambrogio 3, na “Domus paterna sancti Ambrosii”.

Considerando o tamanho de suas congregações, vocês têm uma organização regional? Como funcionam as relações inter-regionais?

P. A. Javier: Às vezes, certas partes do mundo trabalham mais próximas umas das outras, como é o caso dos mosteiros da África, que representam 59% da Congregação. Da mesma forma, os mosteiros europeus têm um peso específico. Temos a intenção de consolidar as relações entre os mosteiros da América e da Ásia.

P. A. Ignasi: Estamos organizados por província. Algumas províncias são baseadas na região, como as províncias vietnamita, italiana e filipina, e outras no idioma: as províncias francesa, espanhola e inglesa.

Vocês têm a oportunidade de reunir os superiores de seus mosteiros fora do Capítulo Geral? Eles se reúnem com frequência? Você mesmo pode encontrá-los fora dos Capítulos ou das visitas canônicas?

P. A. Javier: A cada quatro anos, entre a celebração do Capítulo Geral, é convocada uma reunião com todos os superiores maiores para avaliar o Capítulo anterior, acompanhar a evolução dos temas tratados e propor novos temas para o próximo Capítulo.

Além disso, as várias regiões realizam reuniões anuais de superiores. Finalmente, há muitas oportunidades informais para os superiores se encontrarem.

P. A. Ignasi: Devido ao tamanho da nossa Congregação, todos os superiores se reúnem apenas nos Capítulos Gerais. Entre eles, no entanto, eles se reúnem em nível provincial ou regional, com superiores de outras congregações beneditinas ou mesmo de outras ordens.

O senhor prevê, em sua Congregação, a transferência de monges e monjas do Sul, onde as vocações são mais numerosas, para o Norte, onde elas são escassas? Ou o senhor deixa as comunidades lidarem com isso de forma independente?

P. A. Javier: É uma questão complexa que exige uma resposta detalhada. A experiência nos mostra que cada caso deve ser tratado individualmente, tanto para o monge quanto para a comunidade à qual ele está destinado. Não se trata tanto de uma questão de números, mas mais de uma questão de motivação e de um projeto para concretizá-la. No entanto, essa não é uma questão fechada e a Congregação, como tal, está interessada em refletir sobre ela.

P. A. Ignasi: Cada comunidade decide de forma independente. Há algum movimento, mas é mais no contexto da hospitalidade dos mosteiros do Norte que recebem monges do Sul para incentivar a formação.

Como sua Congregação reage à possibilidade de ter superiores maiores que não sejam sacerdotes, quando suas congregações são indubitavelmente consideradas sacerdotais pela Santa Sé?

P. A. Javier: O pedido é muito diferente do anterior, mas a resposta é a mesma: cada caso deve ser tratado individualmente, levando em conta o indivíduo e a comunidade.

P. A. Ignasi: Já existem alguns casos que funcionam, acredito, sem nenhum problema. O último Capítulo Geral introduziu mudanças em nossas Constituições nesse sentido. Estamos aguardando a resposta do Dicastério (DIVCSVA).

Vocês têm uma Comissão Canônica para ajudá-los nessa questão?

P. A. Javier: Não temos uma Comissão Canônica propriamente dita, mas temos especialistas em direito canônico que são consultados quando necessário.

P. A. Ignasi: Sim, temos uma Comissão.

 

II. Formação

Com relação à formação, vocês têm um projeto comum dentro da Congregação, ou cada mosteiro é autônomo nessa área?

P. A. Ignasi: Cada mosteiro é autônomo, mas há programas comuns para cada província. Um bom exemplo é o Studium em Bouaké.

P. A. Javier: Anos atrás, elaboramos elementos de formação, não um estatuto, que abrangia alguns dos pontos fundamentais comuns a toda a Congregação. Estabelecemos os princípios gerais do que era então considerado necessário em nível de Congregação.

Você acha fácil encontrar formadores?

P. A. Ignasi: Não, não é fácil. Agora é um desafio, tanto no Norte quanto no Sul.

P. A. Javier: Você não nasce um formador, você se torna um! De qualquer forma, isso depende da equipe disponível em cada comunidade. Mesmo assim, encontrar um bom formador não é uma tarefa fácil. Além disso, é essencial fornecer a eles as ferramentas necessárias para que realizem sua tarefa com sucesso.

Há alguém encarregado da formação na Congregação ou uma equipe dedicada a essa tarefa?

P. A. Ignasi: Não, mas há pessoas encarregadas em cada província.

P. A. Javier: Como tal, não há um responsável e não temos a intenção de assumir esse papel porque a realidade da formação é muito diversa se levarmos em conta as muitas diferenças entre os mosteiros de nossa Congregação. No entanto, no que diz respeito às nossas casas de estudo, temos um superior que as visita regularmente.

O senhor incentiva os encontros entre os formadores?

P. A. Ignasi: Sim, dentro de cada província.

P. A. Javier: Sim. De fato, este ano, depois da Covid, estamos retomando o encontro de mestres de noviços de toda a Congregação. Ele será realizado em Nairóbi. Além disso, frequentemente enviamos nossos formadores para programas de formação como o programa «Formadores Monásticos» ou para programas organizados regionalmente.

Como suas congregações são internacionais, é possível que os jovens religiosos do Norte façam formação no Sul e vice-versa? Há intercâmbio entre os formadores e eles podem se deslocar de um mosteiro para outro para ensinar?

P. A. Ignasi: Até agora, o que tem funcionado é a direção do Sul para o Norte para os estudantes e do Norte para o Sul para os formadores, mas muito menos.

P. A. Javier: Essa é uma ocorrência relativamente comum em nossa Congregação. Nossas casas de estudo são internacionais e temos um grande número de estudantes em Sant’Anselmo e em outros lugares. E no que diz respeito aos formadores, quando necessário, algumas comunidades foram ajudadas com o envio de formadores de outros mosteiros.

Vocês organizam encontros entre seus jovens? noviços? jovens professos? estudantes?

P. A. Ignasi: Sim, claro, mas em nível de cada província.

P. A. Javier: Há vários programas que são organizados em níveis muito diferentes: encontros anuais de noviços, dependendo da região; encontros de juniores a cada dois anos; programas sobre missão, etc. A experiência desses encontros é realmente positiva, porque ajuda a unir uma Congregação tão variada como a nossa.

Quais regiões são as mais vocacionais?

P. A. Ignasi: Primeiro o Vietnã, depois as Filipinas, a África e a América Latina.

P. A. Javier: Basicamente a África. Na Europa, o declínio é óbvio, mas não dramático. Regiões como a Ásia e a América estão apresentando um crescimento discreto.

No que diz respeito aos estudos de filosofia e teologia, vocês têm seu próprio centro dentro da Congregação? Vocês trabalham com outras congregações, mesmo não beneditinas? Sant’Anselmo ou outros centros de formação internacionais?

P. A. Ignasi: Não temos nosso próprio centro, a não ser o Studium em Bouaké para a África Ocidental de língua francesa e o Studium em Montserrat para a província de língua espanhola. Então, cada mosteiro decide. Alguns mosteiros, como Montserrat, podem organizar os estudos em suas instalações porque são associados a Sant’Anselmo. Outros procuram lugares para estudar em sua vizinhança ou em Sant’Anselmo.

A casa de estudos dos irmãos de Sankt-Ottilien em Nairóbi (Quênia). © AIM.
A casa de estudos dos irmãos de Sankt-Ottilien em Nairóbi (Quênia). © AIM.

P. A. Javier: Temos duas casas de estudo, uma em Nairóbi, no Quênia, e outra em Lusaka, na Zâmbia. Um grande número de nossos alunos está em Morogoro, na Tanzânia. Além disso, há vários monges estudando em outros lugares, inclusive em Sant’Anselmo. No momento, há cerca de 100 monges estudantes.

Vocês têm uma política comum sobre abuso, abuso de autoridade e coisas do gênero durante a formação de seus jovens?

P. A. Ignasi: Ainda não. Alguns mosteiros são mais avançados nesses pontos e outros são mais lentos.

P. A. Javier: Infelizmente, ainda não trabalhamos em nada nessa área.

O que você espera da AIM na área de formação?

P. A. Ignasi: Certamente, ajuda financeira para monges e monjas que podem e querem estudar, mas não têm recursos financeiros. Também há apoio para o Studium em Bouaké.

P. A. Javier: Talvez a AIM possa contribuir para o desenvolvimento de temas como o mencionado na pergunta anterior. O mais importante em termos de formação é promover e organizar reuniões em nível regional e dar atenção especial aos mosteiros com poucos recursos, tanto humanos quanto econômicos, a fim de melhorar os níveis de treinamento.

 

III. A economia

Cada mosteiro é autônomo, mas sua Congregação intervém na situação econômica dos mosteiros? Ela os monitora? Ela apresenta as contas anuais?

P. A. Javier: Intervenção é uma palavra muito forte e deve ser interpretada de várias maneiras. Dentro da Congregação, temos mecanismos para controlar e supervisionar a situação financeira e econômica de todos os mosteiros. Uma vez por ano, eles são obrigados a apresentar um relatório de auditoria externa e, a cada quatro anos, como parte da visita canônica, é feita uma visita financeira. Tudo isso é supervisionado pelo Conselho de Auditores da Congregação.

P. A. Ignasi: Durante a visita canônica, temos de verificar as contas e a situação econômica dos últimos quatro anos. Os mosteiros se ajudam mutuamente dentro de cada província e também em nível da Congregação.

Vocês têm um fundo de solidariedade? E como ele funciona?

P. A. Javier: Não exatamente. As crises econômicas são tratadas individualmente e buscamos soluções em que a solidariedade de outras comunidades possa ser chamada. Nesse sentido, a Congregação desempenha mais um papel de mediação e consultoria.

P. A. Ignasi: Temos um Fundo de Solidariedade da Congregação. O último Capítulo Geral nos pediu que elaborássemos os estatutos, que foram aprovados pelo Conselho de Visitadores em novembro de 2024.

Sua Congregação tem algum recurso próprio além das contribuições dos mosteiros?

P. A. Javier: Não, a Congregação como tal funciona graças às contribuições de cada mosteiro.

P. A. Ignasi: Nos últimos anos, sim. Mesmo que os recursos não sejam muito grandes, eles ajudam muito a sustentar a Congregação.

Sua Congregação organiza reuniões de ecônomos?

P. A. Javier: Atualmente, estamos trabalhando em uma série de workshops voltados principalmente para o treinamento econômico e financeiro de novos ecônomos e superiores. Em algumas regiões da Congregação, há reuniões de ecônomos, mas até agora não em nível de Congregação.

P. A. Ignasi: A Congregação não faz isso, mas algumas províncias fazem.

Vocês têm mosteiros que são administrados por leigos?

P. A. Javier: Embora ainda não seja a norma, está se tornando cada vez mais comum que profissionais externos gerenciem parte da administração. Alguns mosteiros já têm leigos como administradores.

P. A. Ignasi: No gerenciamento real dos mosteiros, sim, mas sempre há um monge que é responsável e a quem se faz referência.

Vocês têm consultores para investimentos financeiros, investimentos éticos e assim por diante?

P. A. Javier: Essa é uma área em que cada mosteiro decide por si mesmo como administrar seus recursos. Em nível de Congregação, também oferecemos esse serviço e, para isso, temos consultores externos que gerenciam os investimentos.

P. A. Ignasi: Depende de cada mosteiro, mas geralmente há consultores.

Quando um mosteiro é extinto, como a Congregação intervém para administrar as pessoas e os bens?

P. A. Javier: Até o momento, só tivemos casos de fechamento de mosteiros dependentes, não de mosteiros autônomos, e foram os próprios mosteiros que supervisionaram o processo. Em algumas ocasiões, recorreu-se à ajuda e à assessoria da Congregação.

P. A. Ignasi: Normalmente, tudo está previsto em nossas Constituições. Alguns pontos foram modificados no último Capítulo Geral e estamos aguardando a aprovação do Dicastério.

O que acontece se um mosteiro for à falência?

P. A. Javier: Embora essa possibilidade não esteja excluída, nunca tivemos nenhum caso até o momento. Mas estamos cientes de que é essencial prever tais situações e abordar o problema com tempo suficiente para analisar as possíveis alternativas, incluindo, se necessário, o fechamento do mosteiro.

P. A. Ignasi: Nesse caso, os mosteiros da província procuram ajudar. Também pedimos ajuda aos mosteiros de outras províncias. A Congregação não tem os recursos para fazer isso.

 

IV. Vida de oração

Estar à frente de uma Congregação implica em grandes responsabilidades e muitas viagens. Que lugar você encontra para Cristo em sua vida?

P. A. Ignasi: Sem ele no centro de minha vida como monge, o serviço que me foi pedido seria impossível para mim.

P. A. Javier: É certo que o ritmo normal pressuposto na vida monástica não existe no caso de um Abade Presidente. Apesar disso, os muitos momentos de solidão envolvidos nas viagens e os problemas que precisam ser enfrentados me fazem ver com mais intensidade a necessidade de intensificar minha confiança em Cristo e tentar encontrá-lo em meio a uma vida mais ocupada do que o normal.

Você tem uma lista de pregadores específicos para sua Congregação?

P. A. Ignasi: Não, não temos uma lista, mas os monges se conhecem em nível de províncias e regiões linguísticas.

P. A. Javier: Não, não temos uma lista de pregadores.

Qual é o ritmo dos retiros espirituais em seus mosteiros?

P. A. Ignasi: Normalmente, cada mosteiro organiza entre quatro e sete dias de retiro por ano para a comunidade e incentiva retiros particulares para os monges.

P. A. Javier: A norma estabelece um retiro anual para todas as nossas comunidades, mas cabe a elas decidir a forma desses exercícios espirituais. Além disso, as comunidades organizam dias específicos de retiro ou reuniões comunitárias para refletir e discutir assuntos que lhes são caros, de acordo com seus próprios critérios.

Vocês têm algum membro da Congregação que publica livros sobre espiritualidade, escreve para revistas ou se especializa no estudo da Regra de São Bento?

P. A. Ignasi: Sim, e alguns mosteiros publicam revistas de estudo e divulgação sobre esses argumentos.

P. A. Javier: A Congregação, como tal, não tem a missão específica de tratar de assuntos espirituais. Mais uma vez, isso é deixado a critério de cada comunidade.

A sua Congregação tem suas próprias devoções?

P. A. Ignasi: Isso depende de cada mosteiro, mas não há nenhuma devoção específica para a Congregação.

P. A. Javier: Obviamente, a devoção mariana é comum a todas as nossas comunidades, que a expressam de diferentes maneiras e em diferentes momentos litúrgicos. A devoção ao Sagrado Coração também está presente em muitos de nossos mosteiros.

Vocês têm algum candidato à canonização ou beatificação?

P. A. Ignasi: Não conheço nenhuma causa de canonização envolvendo os monges de nossa Congregação. Mas acho que há causas em andamento em Singeverga e Montevergine.

P. A. Javier: Sim, temos a causa dos mártires coreanos em andamento. São 36 mártires no total, incluindo 18 sacerdotes, 13 irmãos, 3 irmãs e uma leiga que morreram entre 1949 e 1952.




Distribuição geográfica das comunidades das congregações Sankt-Ottilien e Subiaco-Montecassino: em laranja, os países onde há casas Sankt-Ottilien (52 casas, mais de 1.000 monges); em verde, os países onde há mosteiros Subiaco-Montecassino (10 províncias, 90 mosteiros, cerca de 1.350 monges).
Distribuição geográfica das comunidades das congregações Sankt-Ottilien e Subiaco-Montecassino: em laranja, os países onde há casas Sankt-Ottilien (52 casas, mais de 1.000 monges); em verde, os países onde há mosteiros Subiaco-Montecassino (10 províncias, 90 mosteiros, cerca de 1.350 monges).

Encontrar a comunhão na mudança

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Testemunhos

Irmãos Joseph Benedict Donleavy, Dom John George, osb

Congregação Beneditina Inglesa

 

Encontrar a comunhão na mudança

 

De 15 a 19 de julho de 2024, uma delegação de 54 monges e monjas das casas da Congregação Beneditina Inglesa se reuniu na Abadia de Buckfast, na Inglaterra, para uma conferência intitulada: “É este o caminho para a vida? Pensando de forma diferente sobre a mudança”. Monges do Peru e dos Estados Unidos, bem como monjas da Suécia, Irlanda e até da Austrália, reuniram-se na Inglaterra para compartilhar essa experiência. A conferência foi organizada por um comitê que havia sido delegado no Capítulo Geral anterior para oferecer à Congregação um fórum de formação contínua. Os dias foram passados em sessões plenárias, nas quais todos os participantes estavam presentes, ou em pequenos grupos de duas, três ou quatro pessoas. Houve também uma dramatização, para a qual nos reunimos em grupos de dez pessoas.

A Congregação Beneditina Inglesa.
A Congregação Beneditina Inglesa.

O Padre Michael Casey, ocso, da Abadia de Tarrawarra, na Austrália, juntou-se a nós durante a semana e contribuiu com duas apresentações (Vivendo em um mundo em transformação e O ascetismo da liderança monástica). O irmão John Mark Falkenhain, da Abadia de Saint Meinrad (EUA), juntou-se a nós em uma sessão de vídeo e fez uma palestra intitulada “Leading with Authority” (Liderando com autoridade), que se concentrou em autoridade e obediência. Antes da conferência, foi dito aos participantes que eles não deveriam voltar com informações para suas respectivas comunidades, mas que deveriam sair transformados pela experiência. Isso colocou as intervenções do Padre Michael e do Irmão Mark em perspectiva: as conferências deveriam ser ouvidas como uma fonte de formação pessoal, como parte de um processo de mudança pessoal. A seguir, dois jovens monges da Congregação compartilham suas experiências da Conferência.

 

Irmão Joseph Benedict Donleavy, Abadia de Ampleforth

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A congregação beneditina inglesa me parece estar em uma encruzilhada. Depois de Cor Orans, três novas comunidades se juntaram à nossa Congregação: Mariavall - na Suécia, Kylemore - na Irlanda, e Jamberoo - na Austrália. Minster, um mosteiro inglês de freiras, também pediu para se juntar a nós. Ficou claro na conferência que as novas comunidades trouxeram consigo verdadeira vitalidade e entusiasmo. Apesar do título da conferência, é interessante notar que não houve muita discussão sobre planos futuros. Em vez disso, a ênfase foi dada aos relacionamentos que temos uns com os outros. A oportunidade de encontrar e conhecer melhor outros membros da Congregação - especialmente aqueles que haviam se juntado a nós recentemente - foi, por si só, revigorante para mim. Nesse sentido, descobri que o caminho para a vida é recebê-la dos outros.

Nosso intermediador pediu que praticássemos falar a partir da experiência, o que para mim significava descrever nossos pensamentos e sentimentos em termos do que estava acontecendo ou do que havia acontecido conosco. Isso me deu a oportunidade de aprender a expressar o que eu estava pensando, não de forma emocional, mas descrevendo a emoção e a situação real que a originou. Também tive de aprender a expressar minha experiência de forma diferente em grupos diferentes - uma entrevista individual é muito diferente de uma sessão plenária. Tive a experiência de me encontrar em pequenos grupos com quem eu nunca teria escolhido falar sobre mim. Aproveitei a oportunidade para compartilhar algo da minha experiência com essas pessoas, esperando que elas aceitassem de boa fé. Fiquei agradavelmente surpreso ao descobrir que eles aceitaram e que, às vezes, responderam da mesma forma!

Esta semana também me conscientizou da necessidade de ouvir mais abertamente os outros. Muitas vezes, tenho uma ideia preconcebida do motivo pelo qual alguém diz o que diz, e a dramatização da qual participamos mostrou claramente que essas ideias preconcebidas muitas vezes estão certas! No entanto, percebi que todos nós - inclusive eu - precisamos nos sentir seguros o suficiente para nos expressarmos honesta e abertamente para participar de discussões. Percebi o perigo real de julgar o que as pessoas dizem, de não permitir que elas sejam quem são e de privá-las do espaço necessário para que seu compartilhamento seja recebido no grupo. Um participante disse: “Eu penso melhor com outras pessoas”. Acredito que não só penso melhor com outras pessoas, mas também vivo melhor com outras pessoas. Foi uma oportunidade para eu refletir sobre como coloco isso em prática. Portanto, foi uma oportunidade para uma conversão pessoal.

Vale a pena mencionar brevemente uma encenação que fizemos. Cada membro dos grupos de dez pessoas recebeu um personagem. Encenamos uma pequena comunidade de freiras a quem um benfeitor, conhecido apenas por um membro do grupo, ofereceu uma grande quantia em dinheiro. Cada freira tinha suas próprias ideias sobre como usar o dinheiro, e havia três opções básicas: reformar o mosteiro existente, fazer uma fundação ou mudar toda a comunidade para outro lugar. Quatro grupos participaram da encenação. Nenhum deles conseguiu chegar a uma conclusão satisfatória sobre o que fazer. O principal problema foi a comunicação. Alguns não queriam revelar suas ideias ou as informações que tinham, enquanto outros achavam difícil oferecer algo construtivo e se sentiam excluídos da conversa. Outros, ainda, estavam simplesmente determinados a estarem alheios! Ao ver esse caos (que todos nós pudemos ver até certo ponto em nossas comunidades de origem), ficou claro como é importante desenvolver uma comunicação eficaz.

Perto do final da Conferência, algumas vozes expressaram preocupação com nossa fragilidade como comunidades, já que muitas mudanças ocorreram em nossos mosteiros nos últimos anos, incluindo um declínio no número de membros. Um membro levantou a possibilidade de que um novo documento para as comunidades masculinas (semelhante ao Cor Orans) venha de Roma em um futuro próximo, o que pode exigir mudanças que ainda não temos coragem suficiente para fazer por nós mesmos. Uma coisa que parece clara em nossas conversas é que quanto mais pudermos nos comunicar uns com os outros sobre nossas experiências, medos e esperanças, melhor poderemos enfrentar os desafios futuros. No momento, é impossível dizer como será meu próprio futuro, o futuro de minha comunidade ou o futuro de nossa Congregação em termos concretos. No entanto, acredito firmemente que quanto mais melhorarmos nossa comunicação dentro e entre as comunidades, melhor será esse futuro.

 

Dom John George, Comunidade de São Gregório Magno,

Downside, Belmont

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Não há dúvida de que a Congregação Beneditina Inglesa está em um momento de transição: as estatísticas falam por si. Nossas comunidades estão mudando e com a mudança vêm os desafios (e as oportunidades). Portanto, foi muito impressionante ver uma seção transversal da Congregação presente na Conferência realizada na Abadia de Buckfast, em Devon. Abades, abadessas, seniores, juniores - e os que estão entre eles -, europeus e não europeus, todos se reuniram para conversar, ouvir e compartilhar. Nossas casas se reuniram como eclesiae para aproveitar as experiências umas das outras e reconhecer melhor o papel que desempenhamos na Igreja universal.

A Conferência teve um caráter primordialmente “sinodal”. Não houve uma agenda ou objetivos prioritários. Pelo contrário, nos reunimos como monges e monjas para nos conhecermos um pouco melhor e estabelecermos vínculos entre nós. A Conferência permitiu que os participantes falassem livre e honestamente sem a necessidade de defender obstinadamente seus pontos de vista (cf. RB 3, 4). Afinal de contas, era a Congregação falando e ouvindo juntos. Como um dos monges mais jovens da Conferência, foi um grande incentivo ver a escuta beneditina em ação de forma poderosa. Quando falamos, seja nas grandes sessões plenárias ou nos grupos menores, fiquei impressionado com o respeito demonstrado por cada pessoa ao falar a partir de sua própria experiência de vida monástica, o que fez surgir uma maior apreciação dos problemas e desafios enfrentados por todas as nossas comunidades e um desejo de garantir um futuro melhor para a vocação beneditina em nossos respectivos países.

É fácil que essas conferências se tornem uma lembrança distante, facilmente esquecida quando voltamos às exigências da vida monástica de cada um, mas foi perceptível que muitos, particularmente os participantes mais jovens, estavam profundamente conscientes da necessidade de mais conversas e compartilhamento. Como o monaquismo enfrenta enormes mudanças culturais e religiosas, torna-se cada vez mais importante reconhecer que nenhuma casa tem a solução. Entretanto, quando nos reunimos como monges e monjas, somos lembrados do valor de nossa vocação monástica, o que nos leva a refletir sobre como garantir seu futuro para uma nova geração.

Reflexões sobre a presença/ausência dos monges na vida da Igreja hoje

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Reflexões

Dom Manuel Nin i Güell, osb,

Monge de Montserrat (Espanha) e Exarca Apostólico

da Igreja Greco-Católica da Grécia

 

“Quem ou o que está faltando?”

Reflexões sobre a presença/ausência dos monges na vida da Igreja hoje

 


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Nos grandes momentos da história das Igrejas cristãs do Oriente e do Ocidente, houve presenças – “grandes presenças”, eu diria – que marcaram um momento específico na vida de uma ou outra Igreja cristã: a pregação dos apóstolos após a ressurreição de Cristo; o martírio e os mártires dos primeiros séculos cristãos; os grandes exegetas e teólogos dos séculos II a V, e as formulações teológicas – trinitárias e cristológicas – dos primeiros grandes concílios ecumênicos, de Nicéia a Calcedônia; o impulso apostólico e missionário em direção ao Extremo Oriente – Índia, China, Mongólia – das Igrejas Siríacas Orientais desde o início dos primeiros séculos; a expansão da vida monástica no Oriente e no Ocidente, com a influência e o peso dos monges e dos grandes centros monásticos na formação e no desenvolvimento de tantos aspectos da liturgia cristã. E isso em tantos períodos e momentos da história das Igrejas, desde o primeiro e segundo milênios até os dias de hoje, com, e uso o termo novamente, “grandes presenças” que tiveram e ainda têm influência na vida das Igrejas.

“Fortes presenças”, certamente, mas, pergunto-me, se talvez haja também “grandes ausências”, pelo menos em certos períodos da história. E, neste momento da vida da Igreja, pelo menos da Igreja Católica, tanto oriental quanto ocidental, eu me perguntei: “O que, ou quem, ou o que está faltando?” na reflexão eclesial do momento atual, em relação a um tema que, hoje, parece ser – se me permitem a imagem – a única tábua de salvação à qual se agarrar, ou seja, o tema da “sinodalidade”. Em um texto anterior, tentei explicar o que, em minha opinião, não é tanto a sinodalidade, o caminho sinodal, a dimensão sinodal da Igreja..., – com toda a terminologia derivada do substantivo que lhe deu origem –, mas precisamente o substantivo original: o que é o sínodo. Assim, os outros termos: sinodal, sinodalidade... derivam e qualificam as realidades às quais são atribuídos; mas a compreensão do substantivo e de seu significado verdadeiro e próprio torna-se fundamental.

Gostaria de dar mais um passo nesse caminho de reflexão e tentar entender e responder à pergunta que tenho feito a mim mesmo: no momento atual da Igreja, “quem ou o que está faltando?” E a resposta, em minha opinião, pode ser encontrada na presença/ausência de monges, da própria vida monástica, no momento atual da Igreja. Ouso responder, ainda que apenas para mim mesmo, com outra pergunta: “Será que não nos faltam monges e a experiência da própria vida monástica?” E tomo a liberdade de fazer esse pedido como bispo-monge ou monge-bispo, como queiram me ver.

Antes de mais nada, gostaria de dizer que os monges, desde suas origens nos primeiros séculos da Igreja até os dias de hoje, são cristãos que não gostam de se expor, que apreciam o silêncio, a paz e a distância do mundo; eles mesmos quase nunca se colocam em primeiro lugar. Desde o início, os monges têm estado “em fuga”; mas isso não significa que sua experiência como homens da Igreja deva ser negligenciada ou deixada de lado, pelo contrário. Porque ir até os Padres do Deserto com o pedido: “Pai, diga-me uma palavra...” ainda é válido e relevante.

A importância dos monges e dos mosteiros. Nos grandes momentos de reflexão teológica, os monges estavam/estão presentes. De modo especial e a título de exemplo, na crise iconoclasta dos séculos VIII e IX, foram os grandes monges teólogos que assinaram a “vitória ortodoxa” naquela que foi uma das maiores crises teológicas do primeiro milênio e, portanto, o fortalecimento no meio bizantino de um tipo de liturgia fortemente monástica.

“Quem ou o que está faltando” – os monges ausentes da Igreja de hoje? Talvez alguém se arrisque a dizer... “deixados de lado” ou simplesmente esquecidos? Talvez a humildade dos monges signifique que eles não apareçam ou não queiram aparecer, e não descarto essa possibilidade. A resposta à minha própria pergunta não pretende ser polêmica, porque é verdade que houve e ainda há monges que se destacaram por suas contribuições em vários setores da teologia e da vida da Igreja; monges eminentes e sábios que participaram, por exemplo, do Concílio Vaticano II e deram sua contribuição no setor litúrgico e no setor específico da reforma litúrgica romana.

Congresso de Abades Beneditinos, setembro de 2024. © St Anselmo.
Congresso de Abades Beneditinos, setembro de 2024. © St Anselmo.

E alguém pode me perguntar como isso aconteceu. Darei alguns exemplos da Liturgia das Horas na atual tradição romana: a redução do número de salmos nas horas de oração. As horas curtas foram reduzidas de três para uma, dependendo da região ou dos motivos pastorais dos padres ou das várias comunidades paroquiais. Depois, havia a própria decisão – sempre discutida e discutível – de “cortar” ou simplesmente “apagar” os versos imprecatórios dos salmos, ou até mesmo excluir salmos inteiros da salmodia ou da oração.

Mas esse “sacrifício” do próprio saltério e do papel dos salmos na oração é basicamente o resultado, mais uma vez, de uma renúncia ao que deveria ser fundamental para a vida de toda Igreja e comunidade cristã: a mistagogia. Diante das dificuldades que encontramos nos textos escriturísticos e litúrgicos e na nossa própria compreensão deles – dificuldades que existem e que ninguém esconde – diante dessas dificuldades, precisamos fazer uma catequese, de fato, uma verdadeira e própria mistagogia para os nossos fiéis, uma mistagogia que os leve à compreensão e, portanto, à aceitação, na própria vida, de um caminho concreto de oração no qual o saltério, no caráter específico da oração cristã, tem um lugar fundamental. Essa catequese, essa mistagogia, é vital para a sobrevivência da liturgia das Igrejas cristãs, e aqui poderíamos usar a frase com toda a sua força, embora tenha sido usada em demasia pelo modo como foi utilizada: “a Igreja será mistagógica ou não será”. Se, nos primeiros séculos das Igrejas cristãs, os textos litúrgicos – sejam eles escriturísticos ou eucológicos – e os próprios sacramentos em sua celebração tivessem sido sempre fáceis e compreensíveis para todos os fiéis, não teria havido, e hoje não teríamos, as grandes catequeses mistagógicas de Cirilo de Jerusalém e Teodoro de Mopsueste, para mencionar apenas dois grandes nomes.

Eu me pergunto se essa mistagogia não está faltando também neste momento na vida da Igreja, e especialmente no tema do “sínodo dos bispos” e na terminologia que talvez seja usada em demasia e com a qual somos inundados: “sinodalidade, Igreja sinodal”. Desde o primeiro momento da celebração do Sínodo dos Bispos, a falta de precisão terminológica e de conteúdo na terminologia utilizada foi sentida, especialmente entre os membros das Igrejas Católicas Orientais.

“Quem ou o que está faltando?” Voltando ao ponto de partida de minhas reflexões, neste momento em que queremos iniciar uma jornada que pretende ser uma experiência do sínodo na vida da Igreja, tenho a impressão de que mais uma vez os monges, ou mais precisamente a opinião e a experiência dos monges nesse campo – uma experiência que certamente seria preciosa – estão faltando. Talvez os monges, homens de silêncio e recolhimento, tenham permanecido em seu deserto, em sua solidão? Também pode ser o caso, mas do deserto eles sempre tiveram, e deveriam ter hoje, uma palavra a dizer e a dar.

No Ocidente, o monaquismo pode não estar na moda atualmente. Hoje, as ordens e os movimentos religiosos com fortes tendências missionárias e apostólicas, organizados hierarquicamente e centralizados, têm uma posição, eu diria, “na linha de frente da batalha” na vida da Igreja. E alguém pode simplesmente perguntar: “O que os monges fazem?” A resposta é fácil e é uma resposta que a história deu e continua dando: são homens de silêncio, de oração, de solidão e comunhão, homens, ouso dizer, “noturnos” que, na escuridão da noite ou ao amanhecer, levantam-se e, o que fazem? Simplesmente, e nada menos, do que tomar nas mãos o saltério, o Davi, como também o chama a tradição siríaca, esse livro de orações antigas, de origem judaica, tornadas cristãs pelo próprio Cristo quando as rezou com as mãos estendidas na cruz, orações ainda hoje tornadas cristãs pelos próprios monges que vêem e encontram nelas a voz de Cristo, a voz da Igreja, o grito da própria humanidade, e as transformam em sua própria oração. Orações tomadas em mãos por esses homens da noite que há séculos os acordam e rezam para eles todas as noites, todas as manhãs, todas as noites e durante todo o dia. E esses homens da escuridão noturna, da espera pela aurora, do silêncio, da fraternidade, gostam de fazer, gostam de viver verdadeiramente no modo sinodal, sabendo, porque aprenderam isso no primeiro dia em que bateram à porta do mosteiro, com quem estão viajando, por que estão viajando, para onde estão viajando, com quem estão viajando juntos.

Os mosteiros e os monges do Oriente e do Ocidente são para toda a Igreja, para todos os cristãos, um verdadeiro e real exemplo de vida em sínodo (prefiro usar o substantivo em vez do adjetivo), e não apenas porque o abade, o pai e pastor da comunidade, reúne os monges, todos os irmãos dessa família que é o mosteiro, ouve-os, envolve-os em uma verdadeira e real colegialidade na vida cotidiana do mosteiro – o abade convoca, ouve a todos... –, mas, acima de tudo, porque eles próprios são os monges, os irmãos dessa família que é o mosteiro, ouvem-nos, envolvem-nos em uma verdadeira e real colegialidade na vida cotidiana do mosteiro – o abade convoca, ouve a todos... – mas, acima de tudo, porque eles próprios sabem exatamente com quem, para quem e para onde estão viajando. O mosteiro não é uma democracia parlamentar na qual todos decidem sobre tudo e todos, mas um lugar de escuta, sob a orientação e a palavra do abade, e é, como a própria Igreja, o verdadeiro e único Corpo de Cristo. Um mosteiro/corpo no qual cada membro tem seu próprio papel, todos guiados pelo abade, por aquele que é o pai, a cabeça, o pastor, o guia e, portanto, o vigário daquele que é a verdadeira Cabeça, o Pastor, o Guia, em outras palavras, Cristo, o Senhor.

“Quem e o que está faltando?” Em meu parágrafo anterior, procurei esclarecer o significado do substantivo “Sínodo” e enfatizar que não se trata de “todos caminhando juntos...”, mas sim de “todos caminhando com Cristo...3. E dessa real e verdadeira “caminhada sinodal” os monges são – pelo menos nisso, certamente – especialistas. Os mosteiros e a própria caminhada das Igrejas cristãs, como já salientei, não são e não podem ser governados como uma espécie de “democracia parlamentar de tomada de decisões”. Nos mosteiros, cabe ao abade, ao pastor, juntamente com todos os monges, refletir e decidir. O mosteiro, a vida dos monges, é sempre um exemplo verdadeiro e real do que é o sínodo, do que deve ser a jornada com Cristo, sob a orientação do pastor da comunidade, na escuta da Palavra de Deus, na vida sacramental, na celebração da fé e na comunhão fraterna.

“Quem e o que está faltando?” Talvez a experiência desse sínodo real e verdadeiro que é a vida de todo mosteiro cristão possa nos ajudar hoje a encontrar uma resposta. A palavra dos monges, desde os Padres do deserto em suas apofanias até hoje, sempre foi uma palavra clara, sempre afiada como uma espada de dois gumes e, ao mesmo tempo, sempre uma palavra humilde de comunhão e de Evangelho. Escutar, envolver os monges, não é tirá-los do seu silêncio, da sua “escuridão”, mas sim escutar a palavra que brota do seu silêncio e da sua oração, que brota daquele Davi que, todas as manhãs, os faz repetir com insistência: “Escuta, Senhor, a minha oração, inclina os teus ouvidos à minha súplica...”.

O Concílio de Nicéia

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Uma página de História

Jerôme de Leusse, Dr. em História

Presidente da Fundação Benedictus ligado a Caritas França

 

O Concílio de Nicéia

 

A Igreja, neste ano jubilar, celebra 1700 anos do Concílio de Nicéia, que aconteceu na primavera e no começo do ano 325. Esta celebração tem um significado muito importante no mundo cristão. O Símbolo (Creio) de Nicéia é um laço de unidade de uma fé comum entre as grandes Igrejas cristãs, partilhada com o mundo da Reforma, a Ortodoxia (com a nuance importante do Filioque acrescentado por Carlos Magno) e o catolicismo. Nicéia também reformou a vida e a organização da Igreja. Para além do concílio propriamente dito, o contexto histórico exerceu uma influência duradoura na vida da Igreja.

 

A crise do séc. III

No ano 325 o Império romano dominava a bacia mediterrânea e uma grande parte da Europa. Este império não é mais o das origens. Entre 235final da dinastia dos Severo e 284, chegada de Diocleciano, o Império foi marcado por golpes de estado, de revoltas militares, usurpações e assassinatos de imperadores, assim como por guerras civis. O império parecia vacilar nas bases.

Esta crise de poder foi duplicada pela pressão dos bárbaros nas fronteiras, e por sucessivas derrotas militares. Pressão dos Godos na região do Reno e do Danúbio, ataques dos Persas no Oriente. As províncias em toda a parte no Império foram arrasadas por invasões. O exército romano era incapaz de conter o invasor.

Seguiu-se uma grave crise económica. As mercadorias não circulavam mais corretamente, os preços subiram, as populações empobreceram.

Houve também uma crise religiosa e moral. No seio do Império os cristãos eram vistos como culpados pelos problemas. O cristianismo inquietava o poder. Se recusavam adorar a imagem do imperador, tornavam-se inimigos dentro. No ano 250 o imperador Décio lançou uma perseguição geral contra os cristãos. A perseguição ia junto com a vontade de reerguer o Império.

 

Erguer o Império por meio da ditadura e da política religiosa

Esta vontade de reerguer o império realizou-se com a tomada de poder de um general, originário da Ilíria (atual Croácia). Diocleciano tornou-se Imperador Augusto no ano 284 e rapidamente criou um sistema com mais dois imperadores e depois quatro: era a Tetrarquia. Funcionavam aos pares; um par no Ocidente (um Augusto e um César) e um outro par no Oriente. Diocleciano e Maximiano são “Augusto” e Constâncio Chlore (pai de Constantino) e Galério são “César”.

Rapidamente se restabeleceu a segurança nas fronteiras. Reformaram o exército, restabeleceram a paz civil no interior. Estavam presentes, mas separados, nos lugares mais difíceis. Tinham setores geográficos de governo diferentes. Restabeleceram a prosperidade lutando contra a inflação, por meio de um edito que bloqueava os preços e os salários, no ano 301.

Tudo isto foi feito ao preço de uma ditadura severa, que obrigava cada um a permanecer na sua classe social, aumento dos impostos e castigo muito severo os que não obedeciam aos editos imperiais, com a morte ou a deportação para as minas.

A partir de 287 os imperadores escolheram, cada um, um título. Diocleciano escolheu o nome de Joviano (descendente de Jupiter) e Maximiano o de Herculiano (descente de Hercules). O objetivo, como no tempo de Décio, era reforçar a unidade imperial por meio da religião. Os imperadores recebiam adoração por meio do gesto de Proskynese: prostração diante deles, beijo ao manto de côr púrpura. As imagens deles eram incensadas, as salas do palácio onde governavam tornaram-se santuários. O nascimento de um imperador era um natalis Imperii, um nascimento de ordem divina, um ortus, um nascer do dia.

Depressa os cristão apareceram como um obstáculo a esta unidade. Não sacrificavam às imagens dos imperadores. Desde Décio que a Igreja vivia em paz, sem nenhuma perseguição. Os cristãos eram numerosos no Império. Havia mesmo uma Igreja diante do Palácio imperial da Nicomédia, no Oriente. Altos funcionários do Império tinham-se tornado cristãos. No ano 303 e 304 começou a perseguição: destruição das igrejas, confiscação dos livros sagrados, dos vasos e objetos de culto, muitas vezes preciosos; depois obrigação de sacrificar às imagens dos imperadores sob pena de morte, de torturas horríveis e de deportação para as minas. Houve muitos mártires. No oriente a perseguição durou até ao ano 311, e até 313 em certos lugares. No Ocidente foi mais fraca e mais curta (foi até o ano 305). Recomeçou no Oriente no final do reinado de Licínios, em certos lugares, no ano 324.

 

A revolução constantiniana

No ano 305, Diocleciano abdicou e obrigou Maximiano a fazer o mesmo. Os dois César: Constâncio Chlore e Galério tornaram-se “Augusto”, o primeiro no Ocidente, o segundo no Oriente. Os “César” eram escolhidos fora das famílias dos dois “Augusto”, Severo e Maximino Daia. Houve uma revolta dos filhos de Constâncio e de Maximiano. Quando morreu Constâncio, no ano 306, Constantino, que estava no norte da Bretanha(Reino Unido) foi proclamado imperador pelas legiões. Maxêncio, filho de Maximiano também se fez proclamar imperador. Maximiano voltou ao poder para ajudar seu filho. E seguiu-se uma guerra civil até ao ano 313.

Constâncio Chlore e depois Constantino, no Ocidente, praticamente não foram perseguidores (algumas igrejas foram destruídas entre os anos 303 e 305). Mas Galério e Maximino Daia, no Oriente foram perseguidores fanáticos. Maxêncio e Severo também foram perseguidores.

 

Constantino um imperador com grandes interrogações religiosas: do Sol Invictus ao cristianismo

Constantino tinha uma sede religiosa incontestável e antes de sua conversão ao cristianismo aparece como um imperador pagão, mas em rutura com os símbolos religiosas da Tetrarquia, de que tinha sido afastado. As moedas do tempo de Constantino têm a efígie de Marte, o sol pacificador. Constantino teria mesmo beneficiado de uma manifestação do deus Apolo (como o imperador Augusto) Em Constantino há uma mistura de propaganda religiosa, de procura pessoal e de oportunismo político. Sua mãe, a imperatriz Helena era provavelmente já cristã. Isso explica a fraca perseguição no tempo de Constâncio Chlore, pai de Constantino. Sua conversão progressiva à religião cristã tem de ser entendida dentro desta mistura de uma busca íntima e do papel da política. A conversão fez-se por etapas, 312, 313, depois 324-25 e finalmente até ao seu batismo pouco tempo antes de sua morte em 337. Constantino terminou os últimos anos de sua vida como um devoto, arrependido dos assassinatos que cometeu.

 

A vitória de Constantino na Ponte Milvius (312) e o Edito de Milão (313)

No ano 312 Constantino deu o primeiro passo oficial de conversão. Beneficiou de uma nova manifestação divina na véspera de uma batalha. Foi a batalha vitoriosa da Ponte Milvius, em que eliminou o seu opositor Maxêncio e tomou Roma. Foi o Deus dos cristãos que se manifestou. Apareceu-lhe um sinal (para alguns foi um sonho, para outros um sinal visível no céu). Foi o Chrisme (duas letras do alfabeto grego que significam “Cristo” e que simbolizam o Cristo. E escutou esta frase: ”Com este sinal vencerás”. Fez pôr o sinal do escudo dos soldados e também na bandeira imperial. No dia seguinte venceu a batalha. O arco de triunfo de Constantino em Roma expressa a ajuda divina, sem fazer diretamente referência ao Deus dos cristãos. Mas a partir de 313 o primeiro panegírico em Milão evoca este episódio. Em 315 as primeiras moedas foram cunhadas com o Chrisme. No ano 313, Constantino e Licínio publicaram um edito de tolerância a respeito dos cristãos. Licínio reinava no Oriente e Constantino no Ocidente. Foi o fim das perseguições, e começou a restituição dos bens. O edito era válido em todo o império. Mas a partir de 217 e até 324 a política religiosa dos dois imperadores divergiu, até à vitória final de Constantino sobre Licínio.

 

A política religiosa de Constantino: O cristianismo passa de religião perseguida a religião legalizada

Progressivamente os temas pagãos (solares) desaparecem das moedas de Constantino entre 320 e 324. Constantino começa a estabelecer uma legislação favorável ao cristianismo. Toma medidas contra certos aspetos do paganismo (especialmente a magia e certos cultos e sacrifícios privados). No entanto guarda o título de Pontifex Maximum, a mais alta dignidade da religião romana usada pelos imperadores desde Augusto.

Depois de sua vitória sobre Licínio em 324, mandou fechar certos templos, e tentou, em vão, acabar com os jogos do circo, os combates de gladia-dores e prisioneiros lançados às feras. Mas manteve os cultos pagãos oficiais e a religião pagã oficial.

Em relação ao cristianismo a política imperial evoluiu consideravelmente a partir de sua tomada de poder no ano 312. De 313 a 315 a Igreja tinha um estatuto oficial. A Igreja, como “corpus christianorum” pode possuir bens e pode herdar. A Igreja recebeu isenção de impostos (privilégio que os templos pagãos nunca tiveram). Os cristãos podiam libertar os escravos nas igrejas a partir de 316-321. Os atos de libertação publicados pela Igreja tinham valor oficial. Os bispos receberam poder de jurisdição sobre o direito civil entre cristãos. Criaram-se tribunais eclesiásticos. No mês de Março do ano 321 Constantino tornou o dies Solis (o dia do Sol, dies Dominicus – dia do Senhor para os cristãos) feriado. A celebração do domingo mudou o ritmo da vida das pessoas em todo o Império. A partir do ano 312 o imperador isentou o clero cristão de cargos públicos, do serviço do Estado e dos municípios, assim como dos impostos. O clero tinha um estatuto oficial. O imperador favorecia as conversões ao cristianismo especialmente dos judeus. O imperador apoiava os tribunais eclesiásticos que condenavam os hereges.

 

Primeiras intervenções do Imperador na vida da Igreja: a crise donatista na África e o concílio de Arles

A partir do ano 313 Constantino começou a interferir na vida da Igreja para tentar resolver conflitos. Na África um edito seu quis restituir os bens confiscados durante a perseguição, mas encontrou uma dificuldade: saber a quem restituir esses bens. A Igreja da África estava dividida entre os defensores de uma grande rigor para com os traidores, não perdoar, dirigidos pelo bispo da Numídia, Donato, e o resto da Igreja que era mais tolerante. Constantino quis acabar com o cisma donatista. Encarregou o bispo de Roma de regular a questão. O Papa rodeou-se de bispos italianos e gauleses. Donato foi condenado. Os Donatistas contestaram e Constantino confiou o assunto a um tribunal episcopal, que reuniu os bispos do Ocidente. A reunião aconteceu em Arles, num palácio imperial com 9 bispos italianos, 12 da Gália e da Germânia, 3 da Bretanha (Reino Unido), 6 da Espanha, mais bispos africanos dos dois lados. O concílio de Arles condenou de novo7 os donatistas. Eles apelaram ao imperador e isso provocou sua intervenção direta. Depois de muitas hesitações e de ter encontrado pessoalmente os dois partidos, Constantino condenou os donatistas e restituiu aos católicos os bens da Igreja da África. Em 313 a perseguição imperial caíu sobre os donatistas e correu sangue. A crise donatista durou praticamente até ao final do séc. IV.

 

O conselheiro eclesiástico Ossius, bispo de Córdova

Constantino tinha um conselheiro eclesiástico: Ossius, bispo de Córdova. Ossius nasceu em Córdova no ano 256, e era bispo dessas cidade desde 295. Morreu no exílio em 357, em Sirmium por causa de sua oposição à política pro-ariana do filho de Constantino. Ossius teve um grande papel na política pro cristã de Constantino, na luta contra o donatismo na África e depois na luta contra o arianismo, primeiro no concílio de Nicéia, e depois ao longo de toda a sua vida. Constantino teve depois outros conselheiros eclesiásticos, como Eusébio de Nicomédia, e sua política religiosa ressentiu-se disso.

 

O começo da crise ariana no Egito: a dificuldade de entender a Santíssima Trindade, como Deus único

A teologia, até essa crise, se baseava nas palavras da Escritura, que às vezes pareciam contraditórias. Desde o começo da Igreja os teólogos chocam com uma contradição aparente: a transcendência do Deus único levava os judeo-cristãos, para não serem acusados pelos judeus de adorarem dois deuses, a minimizar a divindade de Cristo, levando alguns a afirmar até que era apenas uma criatura.

Os cristãos que minimizam a divindade de Cristo existiam sob diversas formas, desde o séc. II. São os subordinacionistas. A Igreja, no seu conjunto, ficou fiel à fé dos Apóstolos afirmando que Cristo é uma pessoa divina. Mas faltavam as palavras, e a fé expressava-se mal e era difícil contestar os que negavam a divindade de Cristo. Na mesma época, no final do séc. II um teólogo, Sabellius, para combater essa teologia criou uma outra, chamada modalista. Deus toma diversos rostos, prosopon, em grego. É Pai para a criação; Filho para a redenção; Espírito para a santificação. Era uma outra heresia, porque não dizia que Deus é verdadeiramente Um em três pessoas distintas; e esta posição simplista nega a verdadeira encarnação do Filho. O Papa Calisto e Tertuliano condenaram esse pensamento modalista.

 

No século III: debate entre o Oriente e o Ocidente para falarem claramente do lugar de Cristo

O debate estava sobretudo presente no Ocidente e acontecia em latim (Tertuliano). Orígenes, que dirigia a escola de teologia de Alexandria, na metade do séc. III, explica que o Pai gera eternamente o Filho. Distinguia três hipóstases, quer dizer três ousiai no Deus único. Mas a teologia de Orígenes dava lugar a uma interpretação subordinacionista, retomada pelo bispo Diniz de Alexandria entre 250 e 264. O Papa Diniz, em Roma, contestou o pensamento do bispo de Alexandria e usou o termo grego homoousios, única substância das pessoas divinas, que são UM. Esta palavra grega não existe nas Escrituras e colocou um enorme problema a muitos teólogos e bispos. Pode-se definir a Trindade com palavras que não saem das Santas Escrituras? O debate entre os dois Diniz faz aparecer várias palavras – hypostasis, ousia, homoousios, que vão ser palavras centrais na briga ariana. Usar a filosofia grega e seu vocabulário, para tentar definir o dogma, foi uma revolução.

Diniz de Alexandria, finalmente aceitou a interpretação de Diniz de Roma, mas as suas interpretações sucessivas foram um mal e criaram um precedente. A briga sobre a relação do Pai e do Filho aumentou, em Antioquia, com perguntas sobre a natureza real do Logos encarnado. Jesus é plenamente Deus, mas uma vez encarnado é plenamente homem? Luciano de Antioquia, um teólogo, ensinava que o Logos só tinha assumido um corpo humano, mas não uma alma. O bispo de Antioquia, Eustato, combateu esta teologia de Luciano, afirmando que o Logos assumiu ser um homem completo. Foi no seio da Igreja de Alexandria que o padre Arius, no ano 320 trouxe de volta o pensamento subordinacionista.

 

A personalidade de Arius

Nasceu em 256 na Cirenaica e morreu em 336 em Constantinopla. Arius foi formado pela teologia de Luciano de Antioquia que era subordinacionista. Arius estava em Alexandria durante a perseguição entre 303 e 313. Foi ordenado diácono pelo bispo Pedro de Alexandria (que foi martirizado no ano 311), e depois presbítero pelo seu sucessor Áquilas. Era um homem austero, um asceta, um grande pregador, um diretor de consciências e era respeitado e seguido pelos cristãos de Alexandria. Sabia transmitir o seu pensamento com palavras que o povo cristão guardava.

 

A teologia de Arius

Ele escreveu ao seu bispo Alexandre: “Nós confessamos um Deus único, um só gerado, um só eterno, um só sem princípio, um só verdadeiro, um só que possui imortalidade, um só sábio, um só bom, um só poderoso”. E qualifica a Deus de “Mónade” quer dizer “Unidade absoluta perfeita” termo que tirou de Platão. Arius apoia-se muito no vocabulário filosófico e define o Cristo de modo negativo em relação ao Pai. Para ele o Filho é uma criatura excecional, mas uma criatura. Insiste sobre a humanidade de Cristo para sublinhar a inferioridade do Filho em relação ao Pai. Para ele o Espírito é também uma criatura. Arius usa as Escrituras interpretando-as erradamente. Foi provavelmente pelos anos 318-320 que começou a desenvolver publicamente suas teses. Era apoiado por sete padres e doze diáconos de Alexandria e também por dois bispos: Secundus de Ptolemais e Théonas de Marmárica (ambos da Cirenaica).

 

A crise espalha-se no Oriente

O seu livro La Thalie tocou o povo, e os artesãos e os que trabalhavam nas docas fizeram canções sobre ele. O bispo de Alexandria, Alexandre, reagiu e opôs-se a Arius. Usou as Escrituras e igualmente o pensamento de Orígenes. Pediu a Arius que desdissesse o que afirmava na sua tese. Arius recusou e procurou o apoio do bispo Eusébio da Nicomédia, um prelado poderoso, parente do prefeito do pretório e amigo de Constância, a irmã do Imperador. Um concílio em Alexandria excomungou Arius e seus apoiantes. Os bispos da Palestina à volta de Eusébio de Cesareia e também de Bitínia (Nicéia e Calcedónia), e também Eusébio de Nicomédia apoiaram Arius. A crise espalhou-se no oriente. O apelo de Arius aos bispos contra o seu bispo era contrário às tradições e um concílio egípcio de 100 bispos condenou Arius. Os bispos de Antioquia, de Jerusalém e de Trípoli apoiaram o bispo de Alexandria contre Arius. Um sofista, Astérios, escreveu uma obra de dialética para defender as teses de Arius. Em dois concílios locais os dois partidos excomungaram-se mutuamente (em Cesareia e em Antioquia). Em cinco anos, o conjunto dos cristãos da parte oriental do Mediterrâneo dividiu-se em duas correntes totalmente opostas.

 

O concílio de Nicéia: um concílio ecuménico e imperial da primavera até ao verão de 325

Constantino que acaba de restabelecer a unidade no Império, depois da vitória sobre o imperador Augusto Licínio no Oriente, em 324, quer a unidade religiosa no seu Império. É o único imperador Augusto com seus dois filhos: Crispo e Constantino II, que têm o título de César. Nas moedas, a partir do ano 324 desaparecem os últimos símbolos pagãos.

Depois de ter tentado resolver a crise Donatista na África, quer resolver a crise ariana no Oriente. A unidade da Igreja tem valor de exemplo. Deve servir de modelo para a paz civil. Quer a unidade das orações para a salvação do Império. Foi certamente seu conselheiro eclesiástico, Ossius de Córdova, que lhe sugeriu convocar um concílio geral. Antes Constantino tinha tentado uma mediação entre Alexandre de Alexandria e Arius. Ossius levou a carta do imperador, mas a tentativa de Constantino fracassou.

O concílio foi convocado por Constantino. Os participantes beneficiaram do transporte imperial do correio para viajar. A organização material estava sob a responsabilidade da administração imperial. Foi escolhida a cidade de Nicéia, depois de várias hesitações. Nicéia era de fácil acesso por mar, e ficava a 50 Km de Nicomédia aonde estava a residência do Imperador. A carta de convocação foi enviada por Constantino a toda a cristandade no começo do ano 325. O Imperador estava presente na abertura do concílio, no dia 20 de Maio de 325. Sentado num trono de ouro e, na sala do Concílio, de cada lado os bispos presentes. O imperador era catecúmeno e esperou que os bispos se sentassem, em sinal de respeito. O discurso de abertura foi provavelmente lido por Eusébio de Cesareia, ou talvez por Eustathe de Antioquia (dois dos bispos mais importantes do oriente). Depois o imperador tomou a palavra para desejar as boas vindas aos participantes, finalmente Ossius de Córdova falou também provavelmente.

Havia entre 250 a 318 participantes de padres conciliares orientais. O que é enorme. O Papa Silvestre, muito idoso, não estava presente, mas estava representado por dois padres: Bitus e Vicente. Ceciliano de Cartago, um bispo de Die e um bispo da Calábria eram os únicos ocidentais presentes, além de Ossius. Havia 10 bispos da Ilíria e alguns bispos que vieram de fora do Império (um da Pérsia, um bispo do Cáucaso e vários do Ponto e de Gothie. O imperador não assistiu a todos os debates, nem participou nos trabalhos dos padres conciliares. Estava representado por um alto funcionário do palácio, Filomeno, que vigiava os debates e contava os votos. A administração do palácio intervinha por trás, quando solicitada, pelos diversos partidos eclesiásticos. Tudo se passou em grego. Os Ocidentais, que não dominavam a língua participaram pouco, como aliás também Constantino.

 

Debates e decisões

Fora da questão ariana, o concílio devia também debater e resolver alguns cismas no interior das igrejas do Oriente. Os milicianos no Egito (que contestavam a primazia da sé de Alexandria sobre a igreja do Egito), os quartodécimos (que usavam ainda a data judaica do 14o dia do mês de Nizan para festejar a Páscoa) e os novacianos (que recusavam integrar e perdoar os lapsi, os que tinham traído a Igreja durante as perseguições). Finalmente havia a questão da disciplina eclesiástica e a intervenção dos bispos sírios, ou da província da Ásia nos assuntos da Igreja do Egito.

Os debates deixam perceber uma grande maioria anti ariana. Todas as correntes teológicas estavam representadas no concílio. Os subordinacionistas à volta do bispo Eusébio da Nicomédia, (e de Arius) eram uma minoria ativa e agitada. Próximo deles, mas mais moderados na posição estava Eusébio de Cesareia e uns 20 bispos da Palestina. Ossius de Córdova e Alexandre de Alexandria apoiado por Macário de Jerusalém eram seguidos pela maioria do Concílio, e até Eustathe de Antioquia se juntou a eles. Finalmente, numa posição extrema de anti subordinacionistas estava o bispo Marcelo de Ancira.

O concílio começou os debates com a questão de Arius. Uma carta de Eusébio de Nicomédia, fervoroso ariano, foi lida diante do Concílio. Escreveu que pretendendo que o Filho era gerado e não criado, se chegaria a defender que é consubstancial ao Pai e que a Ousia do Pai se dividia em duas partes. Foram os subordinacionistas que, para o contestar, usaram pela primeira vez o termo ousia e consubstancial. A leitura do poema La Thalie de Arius acabou por convencer o concílio que essas teses eram uma heresia. Taparam os ouvidos com as mãos e recusaram continuar a escutar esse texto blasfematório.

 

A redação do símbolo (creio) de Nicéia

A redação do que chamamos Símbolo (sinal de reconhecimento) de Nicéia foi desejada pela maioria do Concílio, depois da condenação de Arius e de suas teses. O Concílio queria um texto claro para impedir más interpretações sobre a Trindade. O texto devia apoiar-se sobre a sólida tradição da Escritura. Cada campo opunha, no seio das Escrituras, textos contra textos. Era preciso encontrar uma fórmula que afirmasse sem ambiguidades a consubstancialidade do Filho e do Pai. A palavra Homoousios, que não está nas Escrituras, e que era empregada na filosofia pelos gnósticos, deixava mal à vontade muitos Padres, que não a queriam usar. Mas a palavra grega tinha a vantagem de estar muito próxima da palavra usada pelos ocidentais: substância, que Tertuliano tinha usado no começo do séc. III falando de “unidade de substância”. Finalmente foi a palavra escolhida para definir a relação do Filho e do Pai: consubstancial.

O pequeno grupo de teólogos que redigiu esse CREIO para ser adotado pelos Padres Conciliares na sessão plenária, provavelmente inspirou-se num “Creio” utilizado na Igreja de Cesareia. Usaram palavras fortes para explicitar o Pai, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis e sobretudo para explicitar o Filho “um só Senhor, da ousia do Pai (homoousios), Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus”. Insistem que o Filho é plenamente Deus e que não nenhuma hierarquia entre as pessoas da Trindade. O Verbo é gerado e não criado. O Concílio expressou sua fé no Espírito Santo com uma curta frase. Será só no final do século IV, que em Constantinopla o Símbolo será completado.

O Símbolo foi adotado por uma grande maioria, teve a oposição de 22 bispos (alguns do Egito, da Síria e de bispos da Ásia Menor). Constantino reagiu violentamente e isso reduziu o número de opositores. Só Arius, assim como Secundus de Ptolomaïs e Théonas de Marmárica recusaram reconhecer o novo Símbolo. Foram imediatamente exilados como rebeldes ao Imperador. Mais tarde, no final do ano 325 os bispos Eusébio de Nicomédia e Théognis de Nicéia foram também enviados, em exílio para a Gália, por terem hospedado sacerdotes arianos. Eusébio de Cesareia que era suspeito de cumplicidade com Arius e também com o falecido Imperador Licínius também foi ameaçado. Assim Constantino quis fazer compreender aos rebeldes que era melhor não se opor ao Imperador.

 

Outras decisões do concílio

Os Padres tentaram encontrar uma disciplina eclesiástica, que correspondesse à situação nova da Igreja, ligada à vitória de Constantino. Uma codificação rigorosa para a escolha de um bispo, que deve ser consagrado por ao menos 3 bispos, e se possível por todos os bispos de sua província eclesiástica (canon 4). O canon 4 faz referência ao Metropolitano para a consagração episcopal. Para ser ordenado precisa ter integridade física e uma moral perfeita. O canon 1 proíbe ser ordenado quem se castrou voluntariamente, e o canon 9 proíbe os que cometeram uma falta grave, que exige reconciliação pública. O canon 2 diz que os membros do clero devem ter uma formação. O concílio condena a usura exercitada pelos padres, já que beneficiam de imunidade fiscal (canon 7). O canon 12 proíbe os que entraram na ordem clerical, por fé, e que deixaram o serviço do Imperador, de voltar atrás e abandonar a vida clerical: incompatibilidade entre a militia (serviço) do príncipe e o de Cristo.

Os canons também apresentam uma organização da Igreja na parte oriental do Império. Organização de províncias eclesiásticas à volta do metropolitano. As províncias deviam ter sínodos semestrais, um dos quais deveria ser antes da quaresma (Can.5). Os sínodos deviam poder apelar depois das decisões ou sentenças de um bispo. O canon 6 é mais para as sedes de Alexandria e Antioquia, cuja primazia efetiva do ponto de vista religioso, os padres lembram. Jerusalém tem uma primazia de honra, mas a sede metropolitana permanece Cesareia. A sede de Roma tem primazia no Ocidente e uma primazia de honra no Oriente.

Um outro assunto foi a reconciliação dos “lapsi”, os que traíram sua fé e a Igreja durante as perseguições. Era preciso encontrar um caminho entre aqueles que recusavam totalmente a sua reintegração, e portanto o perdão, como se nada tivesse acontecido. O canon 10 exclui do estado clerical os lapsi ordenados ilegalmente . Os fiéis lapsi, que apostasiaram, ficam à parte durante 10 anos. Os moribundos receberão, no entanto, o viático.

Os novacianos, que deram a si mesmos o nome de “puros” são reintegrados na Igreja por meio de um rito penitencial e pela imposição das mãos, e deviam comprometer-se a renunciar à sua intolerância. Os clérigos são reintegrados na hierarquia e seus bispos podem ser bispos auxiliares de um bispo católico. Para os Paulianos heterodoxos da Igreja de Antioquia, o canon 19 prevê que recebam de novo o batismo e os clérigos sejam de novo ordenados. Isto é contrário ao direito costumeiro da Igreja da época. O concílio também tomou medidas para os Melicianos no Egito. Melitios foi destituído de todas as prerrogativas sacerdotais. Seus clérigos podem ser reintegrados pela imposição das mãos, mas ficarão em segundo plano na hierarquia da Igreja do Egito.

O concílio de Nicéia procurou pôr em ordem as dioceses orientais atingidas por tantos anos de perseguições. Conseguiu, mas ao longo do tempo os diferentes cismas e heresias (especialmente o arianismo) perduraram muitas vezes depois do concílio e apesar das ordens imperiais.

O último assunto tratado pelo concílio, foi querido por Constantino que insistiu para que a festa da Páscoa fosse celebrada por todos na mesma data. Na Ásia Menor a data da Páscoa seguia o calendário judaico. No Egito, como em Roma, a festa da Páscoa seguia o solstício. Mas o modo de calcular a data da festa móvel, não era o mesmo. Os dois cálculos permaneceram diferentes, mas o concílio abandonou a referência ao calendário judaico.

 

Encerramento e o “bispo do exterior”:

Constantino deu a conhecer, pessoalmente, no Império as decisões do Concílio. O encerramento foi no dia 25 de Julho de 325, que correspondia ao vigésimo aniversário de sua tomada de posse no Império. Os padres conciliares foram recebidos no palácio imperial. Receberam honras militares e o Imperador ofereceu-lhes um banquete. Durante esse banquete, que ele presidiu, , explicou que ele era o “bispo de fora” (ton ektón). Deu-se a si mesmo um papel eclesial que marcou a relação entre a Igreja e o Estado, durante séculos.

 

A evolução da política imperial e a crise ariana

Em dez anos Constantino mudou totalmente de política religiosa e virou a favor do arianismo, e até à sua morte. Esta reviravolta aconteceu rapidamente depois do Concílio. A oposição escondida dos arianos às decisões do Concílio obrigaram o imperador a intervir. Ele e a alta administração começaram a fazer teologia, como o Magister Philoumenos, o prefeito Ablabius, o prefeito do Pretório Flavius Philippos. Ossius de Cordova tinha voltado à sua diocese no Ocidente, Constantino rodeou-se de outros conselheiros eclesiásticos. No ano 327 Constantino queria a reconciliação e a pacificação entre os arianos e os católicos. Helena, sua mãe e Constantia sua irmã apoiavam os arianos e tiveram influência nele. Constantino em 326 tinha ordenado a execução de seu filho Crispus e da sogra de seu filho, Fausta, que tinham conspirado contra ele. Este drama familiar tinha enfraquecido moralmente o imperador e o  concílio não tinha resolvido verdadeiramente o conflito. Constantino reuniu provavelmente um pequeno grupo de bispos orientais. Arius, numa carta ambígua, sem contestar o símbolo de Nicéia, tinha obtido o seu perdão. Os exilados puderam voltar. Eusébio de Nicomédia era parente afastado da família imperial e Constantia defendeu sua causa. Em 328 ele pôde voltar da Gália.

Então os arianos puderam desenvolver seus argumentos para vencerem os bispos “nicenos”. Foi Eusébio de Cesareia quem liderou o combate. Progressivamente todos os bispos “nicenos” foram enviados para o exílio, mas, oficialmente, nunca por motivos teológicos. O mais célebre dos bispos expulso de sua diocese foi Atanásio de Alexandria, o sucessor de Alexandre desde 328 e que foi exilado para Trèves em 335 por Constantino, depois de um concílio que aconteceu em Tyr, depois em Jerusalem, em que Arius foi declarado Ortodoxo.

Os discípulos de Arius, no Oriente triunfavam e em toda a parte, os que tinham defendido e aprovado o Símbolo de Nicéia, acabaram expulsos de suas Sedes episcopais. Eusébio de Cesareia e Eusébio de Nicomédia tornaram-se os conselheiros eclesiásticos do imperador e da família imperial. São as primeiras figuras de bispos políticos e cortesãos.

Constantino finalmente deixou o arianismo triunfar. Os seguidores de Arius, que morreu em 336 foram recebidos na plena comunhão em 335, num concílio local em Jerusalem. Mas oficialmente o Símbolo de Nicéia não foi posto em causa e o catecúmeno Constantino não via muito bem as diferenças de fé dos protagonistas. Constantino, no final da vida, tornou-se devoto; vivia rodeado de padres e de bispos, fazia-se representar vencendo um dragão com uma lança, ou rezando com os olhos fixos no céu.  Escutava a leitura da Sagrada Escritura e rezava na capela do palácio. No  domingo as celebrações no palácio tinham grande aparato. No ano 337 exigiu dos Persas a liberdade dos cristãos e declarou a guerra à Pérsia expressando a sua fé. Vitorioso graças ao seu primo Hannibalianus que conduziu o exército romano, fez a paz na Páscoa de 337. Doente, confessou suas faltas, vestiu-se de branco e fez-se batizar no tempo da Páscoa de 337 por Eusébio de Nicomédia. Morreu neófito no Pentecostes de 337.

 

O desenvolvimento do arianismo no Oriente e no mundo bárbaro

Depois de Constantino, a política de seus sucessores orientais foi globalmente favorável ao arianismo. No Ocidente a fé de Nicéia foi a regra até o ano 353. Em 353 Constâncio II (o filho de Constantino que reinava no Oriente) tornou-se o único imperador e tentou impor o arianismo no ocidente, que tinha permanecido fiel a Nicéia. Nos anos 350 certas sedes episcopais do Ocidente tinham passado para o arianismo, como Sirmium (na Sérvia), Arles, Béziers ou mesmo milão (até 374). Os bispos não arianos foram exilados. A fé ariana convinha ao imperador: se Jesus era o reflexo do Pai, ele podia representar o Cristo na terra e tornar-se o Bispo dos bispos.

Entre 350 e 360 houve uma série de pequenos concílios locais, todos pró-arianos, convocados por Constâncio II. Mas o arianismo dividiu-se progressivamente. A tendência homoiana confessava o Filho semelhante ao Pai (homoios). Era a tendência que tinha os favores de Constâncio II. Uma outra tendência apareceu a partir de 350: os que diziam que o Filho era totalmente diferente do Pai, os anomeianos (anomoios). Finalmente houve um arianismo mais moderado. São os arianos que confessam que o Filho é semelhante ao Pai, segundo a substância (homoiousiois) os homoisianos Estes, a partir do ano 358 aproximaram-se progressivamente dos adeptos de Nicéia. Hilário de Poitiers e Basílio de Cesareia da Capadócia vêm desta corrente teológica. Durante este período pós-Nicéia o arianismo pareceu triunfar, mas muitos católicos, padres e bispos continuaram a professar a fé de Nicéia.

A luta anti ariana continuou no Oriente guiada pelos grandes bispos capadócios: Basílio de Cesareia da Capadócia, Gregório de Nazianzo, Gregório de Nysse, João Crisóstomo. Mas foi em 379, quando foi nomeado “Augusto” o general romano Teodósio, originário da Espanha, pelo imperador Graciano, que a fé de Nicéia triunfou. Os dois imperadores, Teodósio no Oriente e Graciano no Ocidente eram ambos cristãos, segundo a fé de Nicéia. No dia 28 de Fevereiro de 380 em Tessalónica proclamaram um edito que dizia: “Todos os povos devem aceitar a fé transmitida aos romanos pelo apóstolo Pedro, a que reconheciam o Pontífice Damas e o bispo de Alexandria, quer dizer A Santíssima Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo…” A religião católica torna-se religião de estado. No edito os pagãos e os hereges era ameaçados de ser excluídos da sociedade civil. Em 381 Teodósio convocou um Concílio em Constantinopla. Pela primeira vez em 50 anos a Igreja estava reunificada. O concílio clarificou o símbolo de Nicéia, especificando que o Reino de Cristo não terá fim (Lucas 1,33) e o Concílio acrescentou um longo desenvolvimento sobre o Espírito Santo, sob a influência de Gregório de Nazianzo, mas sobretudo com os textos de Basílio de Cesareia. A divindade do Espírito foi afirmada com a expressão “que procede do Pai” e deve ser glorificado e adorado ao mesmo tempo que o Pai e o Filho. As três pessoas são consubstanciais. O resto do concílio tratou de questões disciplinares. Foi Ambrósio de Milão que foi encarregado de restabelecer a fé na Ilíria. Foram precisos vários anos para diminuir os últimos focos de arianismo no Império.

Um bispo ariano de origem Goda, Ulfila, que participou no concílio de Nicéia, implantou solidamente o arianismo nos Godos, os Alamães, os Burgondos e os Vândalos. Quando os Godos e os outros povos bárbaros invadiram o Império romano na sua parte ocidental, (406) implantaram o arianismo no Império, mas os romanos ficaram católicos. O arianismo foi considerado como paganismo (Francos, Suevos, Anglos e Saxões são pagãos) como religião dos invasores. Os Suevos na Espanha sob a influência dos Visigodos converteram-se ao arianismo em 460.

O arianismo apagou-se progressivamente ao longo do séc. VI no Ocidente. Sob a influência da conversão de Clovis ao catolicismo, que lhe valeu o apoio dos romanos e da administração romana, muitos bárbaros uniram-se à fé católica. O arianismo ficou religião de estado nos Burgondos até ao ano 516. O rei dos Visigodos na Hispania uniu-se ao catolicismo em 587. Em 589 um concílio em Toledo integrou o clero ariano ao clero católico. O arianismo ficou presente como religião de estado nos Lombardos até ao séc. VII.

Nicéia foi o primeiro de uma série de concílios que explicitaram a fé católica. O concílio de Éfeso, em 431 definiu Maria como Theotokos (Mãe de Deus, pois que Jesus é uma pessoa divina). O concílio de Éfeso condenou Nestorius, bispo de Constantinopla que recusava crer nos sofrimentos reais do Verbo no momento da Paixão e que recusava que uma criatura, Maria, tivesse dado à luz Deus. Finalmente em 451 o concílio de Calcedónia afirmou a dupla natureza de Cristo, plenamente Deus e plenamente homem. Tratava-se de combater a heresia monofisista professada por Eutychès.

 

Conclusão

O século IV foi determinante para a história do cristianismo. Tornando-se uma religião oficial e depois uma religião de Estado, o cristianismo foi obrigado a estruturar-se sempre mais. Tornando-se a religião da maioria, precisou aprofundar as definições do dogma, para evitar desvios. Adotando os métodos, as palavras, a cultura da filosofia grega, o cristianismo inculturou-se profundamente na civilização da bacia mediterrânea, o que permitiu aprofundar o pensamento cristão e fazer a fusão duradoura com os elementos dos judeus e dos gregos.

O concílio de Nicéia deu uma definição ao dogma trinitário e unificou, duradouramente, o mundo cristão.

Finalmente este primeiro concílio ecuménico foi fundamental para permitir à Igreja de se reformar. O costume de ter sínodos locais ficou no Oriente e moldou as igrejas cristãs.

A importância que tiveram os imperadores na resolução dos debates teológicos e na disciplina eclesiástica, marcou profundamente a Igreja. No ocidente a modificação do símbolo de Nicéia-Constantinopla por Carlos Magno, é um exemplo claro. A Igreja do Ocidente só se libertou da tutela do poder político no final do séc. XI com a famosa guerra das investiduras e a vitória do bem-aventurado Papa Gregório VII em Canossa, sobre o imperador Henrique. Foram os Papas do séc. XI, que na maioria eram monges beneditinos da Ordem de Cluny que lutaram contra o domínio dos leigos sobre a Igreja. As Igrejas Orientais tiveram mais dificuldade para cortar esse cordão. E em algumas, como a Igreja russa, ainda não foi cortado.

Dom Kevin O’Farrell

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Grandes figuras da vida monástica

Dom David Tomlins, ocso

Abade emérito de Tarrawara (Austrália)

 

Dom Kevin O’Farrell

(1919-2006)

 

Dom Kevin O’Farrell nunca modificou coisas na cena monástica. Não era aliás o seu desejo. Foi durante 30 anos (1958 – 1988) o primeiro abade de Tarrawara. É tudo! Um dia expressou sua compreensão de seu chamado particular como “um sentimento fundamental de compromisso com a comunidade, que se manifestaria fazendo da comunidade o verdadeiro centro da minha vida”.

Abadía de Tarrawara.
Abadía de Tarrawara.

“O que é vital para o abade, escreveu, é lembrar-se que o Pai Celeste lhe deu um trabalho específico para realizar… não ser uma figura notável na Igreja, uma luz brilhante, mas servir com todas as suas energias este grupo particular de homens, escolhidos pelo Pai”.

De fato, Dom Kevin encarnou a tríplice prioridade dos fundadores cistercienses; Roberto, Alberico e Estevão, como apaixonados pela Regra de São bento, apaixonados pelos irmãos e apaixonados pelo lugar.

“Nasci no dia de São Patrício em 1919. Por uma série de coincidências nasci na casa de retiro São Patrício, na colina São Patrício, na cidade de Cork, na Irlanda. Fui batizado numa igreja vizinha – também chamada São Patrício, e inevitavelmente deram-me o nome de Patrício”.

Esta “inevitabilidade” mostra seu sentido de humor. Recebeu o nome de Kevin, um outro grande santo irlandês, quando se tornou monge em Roscrea.

Seu pai, Maurício O’Farrell casou-se três vezes. Isto foi um imperativo pois suas duas primeiras esposas morreram de parto, deixando-o com crianças pequenas. Foram três famílias, 14 filhos. Patrício foi o primeiro do segundo casamento; sua irmã mais nova, Mary, tornou-se Irmã Kevin na comunidade cisterciense uirlandesa de Glencairn. Sua mãe foi Agnes Daly. Seu irmão John tornou-se padre cisterciense (P. Anthony Daly) na abadia de Mount St Joseph, em Roscrea, e foi durante um certo tempo membro do conselho do Abade Geral em Roma. A morte de sua mãe, quando tinha três anos deixou-lhe um sentimento de perda duradouro. Alguns anos mais tarde escreveu sobre seu pai “antes de voltar a casar, ele foi um pai e uma mãe para mim e isso não mudou nunca. Eu era quase inseparável dele” Augusta, sua madrasta, declarou em seu leito de morte, “vocês sabem bem que seu pai era louco por ele quando era criança”. Ele escreveu: “Um dos maiores dons que recebi de Deus, foi o de ter sido sempre amado”. Esta experiência de saber que era amado foi central para sua identidade e seu dom aos outros.

Patrício cresceu em Shanballymore, uma aldeia rural, que só tinha uma rua, a 40 Km ao norte da cidade de Cork. A vida era simples, não havia água corrente, nem esgotos, nem eletricidade. Seu pai tinha uma loja, que vendia tudo, e um bar e mais três casas adjacentes. Tinha também boas terras a um Km da aldeia, um pequeno sítio usado para engordar bois. No entanto tinha muitos problemas financeiros. Na rua havia um alfaiate, um carpinteiro, um ferreiro, um sapateiro, um seleiro (arreios de cavalos), e uma família que talhava pedras monumentais. Patrício amava os dons e a bondade das pessoas. Como abade falava muitas vezes calorosamente dos “pequenos”, uma expressão evangélica, que conforme dizia, ilustrava bem seus pais e vizinhos.

“Uma qualidade particular parece-me ter sido transmitida à minha família por eles (seu pai e sua mãe), a qualidade de amar o que é pequeno, de ser chamado a caminhar na humildade e na pobreza, mas também no amor e no saber abençoar”.

Como abade partilhou comigo escritos de pessoas simples que admirava. Duas delas vinham das ilhas isoladas de Blasket: Twenty Years A-Growing (1933) de Maurice O’Sullivan e a autobiografia de Peig Sayer (1935) Peig.

Depois de ter terminado o Primário em Shanballymore, continuou seus estudos secundários com os Irmãos das Escolas Cristãs em Doneraile, depois passou dois anos no colégio cisterciense de Roscrea. Sua vocação se tornou clara durante o ano que passou na função pública no castelo de Dublin.

Patrick entrou na abadia Saint-Joseph de Roscrea no dia da festa da Assunção em 1937. Viveu este apelo específico em Roscrea como uma bênção.

“Embora na época a vida cisterciense fosse exigente fisicamente e psicologicamente, isso não se refletia no carater dos monges, que eram monges muito amáveis. Parecia não terem caído na armadilha de ficarem agarrados às penitências, que eram mais – como deviam ser – uma influência libertadora em suas vidas. Irradiavam alegria e felicidade, e eram abertos ao amor e à ajuda”.

Dom Albert Derzelle, que era o superior da comunidade de Mokoto no Este do Congo, em 1969, sublinhou esta qualidade no tio de Dom Kevin, o Padre Anthony Daly, monge de Roscrea e mestre dos estudos na Casa Generalícia em Roma, quando Albert era estudante. Dom Albert disse-me que nunca teria sobrevivido ao regime sem a influência benevolente e moderadora de Anthony.

Patrick O’Farrell recebeu o hábito de noviço e o nome religioso de Kevin em Setembro de 1937; fez a primeira profissão em 1934 e a profissão perpétua em 1942; foi ordenado sacerdote em 1945.Escreveu a propósito deste tempo de formação: “tenho o sentimento que durante este tempo de formação o Espírito Santo traçou as linhas sobre as quais minha vida ia se desenvolver, ao longo da vida” O acento está na pessoa de Cristo. Os escritos do arcebispo Mgr Goodier e do bispo beneditino Hedley contribuíram para pôr esses fundamentos Mgr Hedley o impressionou ensinando-lhe que uma meia hora passada a contemplar Jesus Cristo contribuía mais para o crescimento autêntico, do que dias ou meses passados a esforçar-se para adquirir virtudes ou vencer um vício sem a contemplação. Ter acesso aos grandes escritos cistercienses ainda estava por vir.

“Fui igualmente marcado por um capítulo sobre a gentileza num dos livros do Padre Faber; deixou-me para sempre a convicção do valor e do poder da gentileza, reforçada depois com inumeráveis experiências”.

A vida de homens mais velhos foi um fator de formação para ele, especialmente “seu amor, sua alegria e bondade de coração” assim como o sentido do humor. Também observa: “Os superiores tinham a tendência em canonizar a fidelidade à estrita observância, mas nessa época eu ficava mal à vontade escutando-os. Sentia-me desanimar”. O livro do Padre Hillary sobre Roscrea, segundo ele, parecia transcender todos os discursos sobre a austeridade trapista. Hilary estava absorto pela beleza do Monte Saint-Joseph, as colinas, as planícies, as árvores, os pássaros etc. “Sempre pensei que este incidente ilustrava claramente as duas visões diferentes da nossa vida.”

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Kevin ensinou durante um certo tempo no colégio dirigido pela comunidade de Mount Saint-Joseph. Foi depois mestre de noviços até ser eleito primeiro abade de Tarrawarra no dia 29 de Novembro 1958. Antes de deixar Roscrea, com frio de inverno, para ser instalado abade em Janeiro com a bênção abacial numa vaga de calor em Tarrawarra perguntou ao Padre Thomas: “Por quê eu?” Padre Thomas não hesitou em responder: “É muito simples – Deus te deu o dom da gentileza para com as pessoas, então cuida em não perder esse dom”. Dom Kevin escolheu como divisa abacial as palavras de São Bento “Ser mais amado do que temido”.

Durante os começos como abade sentia-se apanhado na armadilha entre o diabo e o grande mar azul. Escreveu: “cresci numa atmosfera em que um superior considerava que manter a regularidade na observância era parte muito importante no seu papel. Alguns monges mais influentes pensavam na época que eu era demasiado tolerante, demasiado indulgente”. Durante seus trinta anos de abaciado (1958-1988) foi atento às graças que lhe eram concedidas. Uma delas foi uma visita a Taizé, durante um capítulo geral. Roger Schutz tinha ideias que inspiraram Dom Kevin. Como escreveu mais tarde: “Havia a questão da complexidade do estilo de vida e da perda das prioridades… a primazia de Cristo tinha sido obscurecida por uma multidão de regulamentos minuciosos. As cerimónias muito elaboradas no coro e na missa também tinham um papel. Tudo isso alimentou no meu coração o desejo forte de voltar à simplicidade da mensagem evangélica de amor e de ajuda mútua”. O que ouviu em Taizé confirmou suas intuições anteriores na oração: “Roger mergulhou nos Evangelhos para ver como devia ser uma comunidade cristã. Logo foi tocado pelo ensinamento de Cristo: “Nisto conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. Aqui está a resposta, pensou ele. Desde esse dia esforçou-se por estabelecer e manter a prioridade da caridade na vida da sua comunidade. Dom Kevin estava convencido da necessidade de colocar o Cristo e seu Evangelho, assim como o grande mandamento do amor no centro da vida monástica. São Bento fez isso desde a formação da tradição.

Vaticano II deu-lhe numerosas citações. Por exemplo, Dom Kevin lembrou que o Concílio definiu o coração da revelação desta maneira: ”O Deus invisível, na plenitude do seu amor, dirigiu-se aos homens como a amigos, e veio a eles para os convidar e os acolher em sua companhia”. Falará de sua espiritualidade de base como da “fé no amor infinitamente grande por mim e por todos os seus filhos”. Além disso recebeu uma graça pessoal que mudou sua vida: ele e a comunidade foram profundamente amados por Maria com um amor incondicional.

O Capítulo geral de 1969 deu coragem a Dom Kevin porque seus dois curtos documentos, a “Declaração sobre a vida cisterciense” e o “Estatuto sobre a unidade e o pluralismo” permitiram uma grande simplificação nos costumes e no estilo de vida das comunidades. Isto permitiu uma volta às prioridades contemplativas monásticas e evangélicas.

Ronald Fogarty, um irmão marista que tinha estudado psicologia nos Estados Unidos e tinha trabalhado depois na renovação da vida religiosa, foi outro dom. O irmão Ronald trabalhou generosamente em Tarrawarra. Ensinou muito sobre a vida comunitária e os modelos de comunidades, os princípios que ajudam a crescer como pessoa e o modo de favorecer o crescimento uns dos outros.

“Insistiu que, nos anos seguintes, só as comunidades calorosas e solidárias poderiam sobreviver e atrair novos membros”.

Dom Kevin participou em muitos Capítulos gerais. Isso lhe deu a convicção clara da importância do abade: “Uma coisa é clara como a água da fonte: o abade – sua qualidade humana – é da maior importância para o bem estar e a felicidade de uma comunidade cisterciense” Por quê? “Antes de mais espera-se que ele seja o sacramento do amor de Deus pelos monges”.

“Não há maior serviço que o abade possa prestar aos seus monges: ajudá-los a realizar como são amados por Cristo e sua Mãe Maria, e com um amor incondicional. Isto significa que se tiverem esta convicção, tudo o mais se coloca no lugar”.

O Milênio de Montserrat

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Notícias

Dom Bernat Juliol, osb

Comissário para o Milênio 2025

 

Abadia de Montserrat: 1 000 anos de idade

Ora. Lege. Labora. Rege te ipsum. In communitate.

 


Em 2025, comemoramos o milésimo aniversário da fundação do mosteiro de Montserrat por Oliba, abade de Ripoll e Cuixà e bispo de Vic. A história nos conta que já em 888, na montanha de Montserrat, havia um pequeno eremitério dedicado à Virgem Maria. Foi somente algumas décadas depois, em 1025, que um grupo de monges de Ripoll, enviado pelo abade, construiu um mosteiro beneditino ao lado do eremitério. Assim nasceu o mosteiro de Montserrat, que sempre foi marcado por esse duplo aspecto: mosteiro beneditino e santuário mariano. Em outras palavras, um lugar de oração, vida evangélica, peregrinação e esperança.

O fato de o fundador ter sido o abade e bispo Oliba, um dos mais importantes promotores da paz na Idade Média, teve um efeito profundo no mosteiro de Montserrat ao longo de sua história. Durante mil anos, Montserrat procurou ser um lugar de acolhimento e encontro, um lugar de escuta, compreensão e paz. Dessa forma, o compromisso de seu fundador fortaleceu o carisma que os monges beneditinos tentaram viver desde o início da Idade Média, no século VI. De fato, um de seus principais lemas sempre foi: Pax! Um lema simples, mas profundo.

A vida monástica beneditina foi resumida de forma mais eloquente em 24 de outubro de 1964 pelo Papa Paulo VI em sua carta apostólica Pacis Nuntius, na qual ele proclamou São Bento o santo padroeiro da Europa. Nesse texto, ele diz que São Bento e seus filhos trouxeram o progresso cristão “com a cruz, o livro e o arado”. A cruz, o livro e o arado. Três símbolos que, ao longo de mil anos, também foram forjados no mosteiro de Montserrat, não para permanecerem trancados dentro das paredes do mosteiro, mas para serem compartilhados com a sociedade como um todo.

Ao longo de centenas de gerações de monges, o mosteiro de Montserrat trabalhou com a cruz, um sinal de fé e espiritualidade, com o livro, um sinal de cultura e pensamento, e com o arado, um sinal de construção social e progresso. Ele fez isso com a vontade de estar enraizado na terra que o viu nascer e que, ao mesmo tempo, o abriu para o mundo. Enraizado na terra e aberto ao mundo, uma testemunha da fé e acolhedor para todos, grato pelo passado e olhando para o futuro. É com essa esperança que o mosteiro de Montserrat está se preparando para celebrar seu primeiro milênio de existência.

Os anos de reflexão que foram dedicados à preparação do Milênio 2025 resultaram finalmente em um lema baseado no conhecido lema beneditino Ora et labora, complementado pela experiência monástica de dois séculos de vida monástica em todo o mundo e, em particular, pelo caminho percorrido em Montserrat. É um lema baseado em cinco elementos que não apenas define a vida monástica, mas também expressa o que o monaquismo beneditino pode contribuir para a sociedade e o mundo contemporâneo. É, portanto, uma síntese da sabedoria que São Bento demonstrou como conhecedor dos monges, mas, acima de tudo, como conhecedor da autêntica natureza humana.

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Ora: A oração é o fundamento desse lema e é também o fundamento da vida. Ela nos ensina a sair de nós mesmos e nos transcender em direção ao Deus de Jesus Cristo, que é a verdadeira Beleza, a verdadeira Verdade, a verdadeira Bondade e o verdadeiro Amor.

Lege: A leitura como símbolo da cultura e a cultura como expressão da beleza da alma humana. Desde os tempos antigos, os mosteiros têm sido locais de transmissão de conhecimento: bibliotecas, escritores e música são exemplos óbvios. A cultura eleva o espírito humano e o aproxima de Deus.

Labora: O trabalho se torna um instrumento de realização pessoal e de transformação do mundo. O esforço, a perseverança, a tenacidade, o trabalho árduo e a paciência são típicos do inconformista, a pessoa que acredita que um mundo melhor é possível.

Rege te ipsum: A tradição monástica ensina que o autoconhecimento e o controle da própria vida são a fonte da verdadeira liberdade. Essa liberdade nos permite viver de acordo com princípios e valores que dão sentido à nossa existência e, em suma, nos faz entender que a verdadeira felicidade é encontrada quando nos colocamos a serviço dos outros.

In communitate: O que é Montserrat? Montserrat é certamente uma comunidade monástica beneditina. Mas Montserrat é também uma comunidade mais ampla, formada por todos os homens e mulheres que se identificam com ela. Essa grande comunidade nos ensina que, juntos, podemos caminhar rumo ao futuro sem medo, com força e esperança.

Esses elementos, que compõem o lema do Milênio de Montserrat 2025, são a proposta que a vida monástica beneditina pode fazer aos seus contemporâneos. Mostram que a vida tem sentido se for vivida de forma coerente com certos princípios; mostram que a felicidade é possível se colocarmos nossas habilidades a serviço dos outros; mostram que Deus nos encoraja constantemente a sermos pessoas melhores e a construirmos uma sociedade melhor.

Jubileu de Ouro da Federação Indo-Sri Lanka (ISBF)

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Notícias

Dom James Mylackal, osb

Presidente da ISBF

 

Jubileu de Ouro da Federação Indo-Sri Lanka (ISBF)

1975-2025

Uma celebração da fraternidade monástica


 

 

O jubileu de ouro da Federação Indo-Sri Lanka (ISBF) foi celebrado alegremente no dia 17 de Fevereiro de 2025, no mosteiro beneditino de Asirvanam (Bangalore). Este acontecimento importante reuniu monges e monjas das comunidades beneditinas da Índia e do Sri Lanka para refletir sobre o caminho espiritual dos últimos 50 anos e renovar o compromisso com o modo de vida monástica. O prior conventual P. Jerôme Naduvathaniyil, do mosteiro hospedeiro e o P. James Mylackal, prior conventual do mosteiro de Navajeevan, em Vijayawada (India), Presidente da Federação, deram as boas vindas à assembleia. A celebração foi honrada com a presença do arcebispo Mar Mathew Moolakkatt, osb, arcebispo metropolitano de Kottayam (Kerala). No seu discurso inaugural, como beneditino, apreciou o crescimento constante da presença de homens e mulheres beneditinos nos dois países e abençoou a assembleia.. Estavam também presentes o Abade Primaz P. Jeremias Schröder, o Presidente da Aliança Inter-Mosteiros (AIM) P. Bernard Lorent Tayart, o Abade presidente dos Silvestrinos Antony Puthenpurackal, a Presidente da Communio Internationales Benedictinarum (CIB), irmã Lynn McKenzie, o P. Cyprien Consiglio, Camaldulense, secretário geral do DIM-MID cuja presença e mensagem sublinharam a importância da solidariedade monástica para além das fronteiras nacionais. Um dia foi consagrado ao diáologo inter religioso; o P. Showraiah Guvvala, de Santo Anselmo apresentou os cursos oferecidos pelo Ateneu e Irmã Resmi Thopillan, osb, secretária da AIM explicou a situação financeira e os projetos.

Depois da celebração eucarística do jubileu, a Assembleia geral anual da Federação começou e foi até ao dia 21 de Fevereiro. Foi um tempo de renovação espiritual, de reflexão e de discussão sobre os desafios e as oportunidades que a vida mo nástica enfrenta no mundo de hoje.

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Uma visão enraizada na espiritualidade beneditina

A Federação beneditina Indo-Sri Lanka foi fundada há 50 anos no mosteiro de Assirvanam, no Bangalore, com uma visão clara: favorecer a unidade, a colaboração e o enriquecimento espiritual entre os mosteiros beneditinos da Índia e do Sri Lanka. No fundo a ISBF não é um simples órgão administrativo, mas uma família espiritual que procura aprofundar a visão de São Bento sobre a oração, o estudo e a ajuda comunitária.

Hoje a Federação alargou-se para incluir 15 congregações e foi reforçada com mais de 100 comunidades monásticas. Mais de 700 monjas e monjas dos dois países consagram-se à regra de São Bento, abraçando uma vida de Ora et Labora – oração e trabalho – dentro das ricas paisagens culturais e espirituais da Índia e do Sri Lanka.

A Índia terra de tradições religiosas e filosofias diversas, oferece um ambiente único para a vida mo nástica aonde o carisma beneditino se harmoniza com o espírito contemplativo profundamente enraizado na espiritualidade indiana. O Sri Lanka, conhecido como a Pérola do Oceano Índico, é, desde há muito tempo uma terra de herança monástica, aonde a tradição beneditina continua a desenvolver-se no seio de uma cultura budista, paralelamente com a fé cristã profundamente enraizada no país.

O objetivo da ISBF: reforçar a vida monástica no séc. 21. A ISBF oferece aos seus membros uma plataforma espiritual para:

 - aprofundar a fraternidade e a unidade entre as comunidades monásticas.

 - engajar-se numa reflexão teológica e espiritual para discernir e responder aos desafios da vida mo nástica hoje.

 - favorecer a aprendizagem e a ajuda mútuas, inspirando-se das experiências ricas das diferentes comunidades.

 - organizar programas de formação contínua para pessoas na formação inicial e para os formadores.

 - trocar possibilidades tanto espirituais como materiais para ajudar as comunidades a prosperar.

Cada ano a Federação organiza sessões de estudo e retiros, oferecendo aos monges e monjas ocasiões para refletir, aprender e crescer na sua vocação. Estas iniciativas estão enraizadas no chamado beneditino para a estabilidade, a conversão de vida e a obediência, garantindo que a vida monástica permaneça viva e seja pertinente diante dos desafios modernos.

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Caminhar da fé e na gratidão

Celebrando a ISBF 50 anos de colaboração monástica, damos graças a Deus, à sua Providência, ao trabalho incansável dos pioneiros e à generosidade dos benfeitores, especialmente AIM-EUA e a AIM Internacional (Vanves, França), dos simpatizantes e da Igreja que ajudaram esta “caminhada”. O apelo para procurar a Deus juntos permanece no coração da nossa missão, e vamos em frente com fé renovada e um compromisso mais profundo e uma esperança inabalável no caminho monástico.

A caminhada continua, guiada pela sabedoria de São bento, enquanto nos esforçamos para viver como autênticas testemunhas do Evangelho, unidos na oração e no amor, procurando sempre o rosto de Deus. Obrigado.

Jubileu de prata de Teok

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Notícias

Segundo um artigo do Dom Sibi Joseph Vattapara, osb

Mosteiro Saint-Joseph de Makkiyad


Ashir Sadan (Teok) :

Jubileu de prata de uma fundação na Índia

 

 

25 anos de oração, de serviço e de esperança

À imagem do apelo do Papa Francisco em Evangelii Gaudium (“… A comunidade evangelizadora, por suas obras, seus gestos, implica-se na vida cotidiana dos outros. (…) Assume a vida humana, toca a carne sofredora de Cristo nos outros” EG 24), a vida monástica consagra-se à oração, à solidão e à união com Deus, ficando próxima das alegrias e das lutas da humanidade.

Esta vocação, herdada dos Padres do deserto, encarnou-se, ao longo dos séculos, sob formas diversas, como a de São Silvestre Guzzolini, fundador dos Silvestrinos no séc. 13: a ordem de São Bento de Montefano – agora conhecida como beneditinos-silvestrinos. Em 1962 esses monges chegaram na Índia, no Kerala, aonde sua presença, pouco a pouco se espalhou pelo país (Makkiyad, Jeevan, Jyothi, Navajeevan).

Em 1999, os irmãos do priorado Saint-Joseph de Makkiyad fundaram o mosteiro de Ashir Sadan, na diocese de Dibrugarh, no Assam. Esta fundação, modesta no começo, tornou-se ao longo dos anos um centro espiritual irradiante. Levados pelo Espírito os monges consagraram-se à oração, ao silêncio e ao serviço das populações tribais do Nordeste da Índia, muitas vezes marginalizados. Sua vida simples, enraizada no Evangelho, dá testemunho de um amor encarnado e de uma solidariedade ativa. Os monges vão ao encontro dos habitantes, partilham a Palavra, promovem a educação, semeiam a paz e a dignidade. Inspirados pelo Concílio Vaticano II afirmam que a vida contemplativa é uma força de evangelização.

 

Um mosteiro enraizado na tradição e aberto ao mundo

O mosteiro de Ashir Sadan encarna hoje uma visão do monaquismo ao mesmo tempo fiel à tradição espiritual, e atento às necessidades contemporâneas. Situado nas colinas de Assam, tornou-se um farol de esperança, lugar de oração, de fraternidade e de compromisso social.

A história de Ashir Sadan começou no dia 27 de Outubro de 1999, quando os padres Stephen Kulathinal e Thomas Kodakassery, guiados pelo prior Jose Kadakelil deixaram o priorado São Joseph de Makkiyad, no Kerala, e foram para a diocese de Dibrugarh. Sua missão, inspirada pelo zelo de São Paulo e São Barnabé, foi sustentada por toda a comunidade. Antes da partida receberam o apoio da comunidade Vanashram de Bangalore e as bênçãos tocantes na gare, sinal forte de fraternidade.

A viagem foi marcada pelo ciclone Paradip que atingiu violentamente Odisha. Presos no trem durante dois dias, sem água, nem comida, viveram um momento de grande angústia, entre ventos violentos, ladrões armados e isolamento total. Foi uma provação física e espiritual intensa, que enfrentaram na oração.

Chegados a Calcutta, depois Dibrugarh no dia 4 de Outubro de 1999, juntaram-se ao padre Thomas Kodakassery. Ajudados pelo bispo Dom Joseph Aind da diocese de Dibrugarh, exploraram toda a diocese com a ajuda de missionários e de religiosos locais para acharem um lugar propício para a fundação de um mosteiro. A escolha caiu num terreno isolado em Teok, no distrito de Jorhat, antigo lugar de pântanos, rodeado por plantações de chá, que julgaram favorável para a vida contemplativa.

Com o acordo do bispo e a tomada oficial do terreno começaram os trabalhos. O mosteiro foi oficialmente inaugurado no dia 6 de Janeiro do ano 2000, durante uma cerimónia presidida por Dom Aind. O bispo via em Ashir Sadan um centro espiritual para apoiar as comunidades católicas muitas vezes isoladas da região. Os começos foram modestos. Os monges instalaram-se num edifício rudimentar, confrontados com o clima de extremos do Assam e má qualidade da água contaminada com arsénico e fluorureto. Graças à ajuda do bispo que lhes forneceu o material e a ajuda logística, as condições de vida melhoraram progressivamente. Assim, Ashir Sadan tornou-se mais do que um simples mosteiro: um sinal vivo de fé, de perseverança e de solidariedade cristã, no coração do Nordeste da Índia.

 

Fidelidade, serviço e esperança

Em Outubro de 2000, o abade Andrea Pantaloni visitou o jovem mosteiro de Ashir Sadan. Apesar do clima rigoroso da região – chuvas a bundantes, inundações, calor – os monges fiéis à regra beneditina ora et labora, cultivavam a terra e ofereciam um acompanhamento espiritual e social nas aldeias, aprendendo as línguas locais, para melhor servir.

O mosteiro beneditino de Ashir Sadan continuou a desenvolver-se desde a fundação. Em 2002 o Padre Jose Kochuparambil, implicado no ministério local, e sabendo os dialetos locais, criou laços com os habitantes, propôs a fundação de um estabelecimento escolar para os marginalizados do distrito de Jorhat, considerando que a educação era um instrumento vital para o progresso social. Os obstáculos acumularam-se (inundações, poucos recursos, penúria de monges, cartas com ameaças ataques físicos aos monges) e quase reduziram a nada os esforços da comunidade. Encorajados pela Igreja local e pelo Papa João Paulo II (discurso aos beneditinos silvestrinos no dia 8 de Setembro de 2001) os irmãos perseveraram, apesar das ameaças, e pouco a pouco ganharam a confiança da população. No dia 21 de Janeiro 2002, Dom Joseph Aind benzeu a abertura da escola.

Em 2006, com o apoio de Dom Joseph Aind e do priorado, foi terminado um novo edifício, o que permitiu aos monges deixar o local modesto das origens e ir para um espaço maior, aonde uma parte foi arrumada como centro de retiro para os padres e os religiosos do Nordeste da Índia. No mesmo ano o mosteiro abriu um internato para rapazes das aldeias afastadas de Teok, oferecendo estabilidade e educação. Os monges velavam pela disciplina e ensinavam valores, tais como a compaixão, cumulando assim as lacunas educativas da região, constatadas quando do recenseamento de 2001.

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O mosteiro alargou sua irradiação graças a programas educativos para os habitantes, dependente da paróquia de Mariani, e dando resposta às necessidades locais, dando ajudas essenciais em tempos de crise, como as frequentes inundações em Assam no ano 2000 – e durante a pandemia de Covid-19 que começou em 2020, distribuindo alimentos, medicamentos, roupa e abrigos aos habitantes atingidos, ajudando as pessoas a fixarem-se no local.

Em 2006 os monges do mosteiro beneditino de Ashir Sadan convidaram as irmãs da Apresentação, uma congregação ativa na educação, na Índia desde o séc. 19 e ofereceram-lhes um terreno. Os monges pediram às irmãs para criarem um centro para moças afim de lhes oferecer um espaço seguro para a educação e o crescimento. Este centro, que viria completar o internato de rapazes aberto naquele ano, responderia às necessidades das diversas comunidades do distrito rural de Jorhat, sobretudo das tribos produtoras de chá e dos grupos do estado de Assam, recenseados em 2001. Sob a direção das irmãs da Apresentação o centro cresceu rapidamente, oferecendo abrigo, educação e ajuda às moças de horizontes diversos, graças à sabedoria da Ordem em matéria de promoção da educação desde 2007. A colaboração entre os monges e as irmãs reforçou a irradiação de Ashir Sadan, juntando o acento beneditino sobre o trabalho e a oração com a herança educativa das irmãs, e fez crescer o impacto do mosteiro. Em 2025 os esforços educativos do mosteiro – incluindo uma escola e o centro para moças abertos em 2002 – continuam a oferecer educação de qualidade à população de Teok e são um símbolo duradouro de resiliência e de serviço diante dos desafios do Assam.

 

Gratidão e alegfria: celebração do jubileu do mosteiro de Ashir Sadan

Em Janeiro de 2025 o mosteiro beneditino de Ashir Sadan celebrou 25 anos de sua fundação acontecida em Janeiro 2020. Esta etapa importante reflete um quarto de século de serviço, de oração, e de crescimento sob a Regra de São Bento e inscreve-se no quadro do jubileu da Esperança proclamado pelo Papa Francisco para este ano, que põe o acento na renovação e na confiança em Deus, no coração dos desafios. Guiado pelos valores beneditinos do trabalho, da oração e da comunidade, o mosteiro reflete o apelo bíblico do jubileu – que está no cap. 25 do livro do Levítico – restaurar as relações, favorecer a conversão espiritual. Esta missão foi reforçada pela perseverança manifestada diante das inundações do Assam, da desconfiança local no começo do ano 2000 e no tempo de crise do Covid-19. Com a ajuda da AIM (Aliança Inter Mosteiros) e do priorado Saint-Joseph de Makkiyas, a casa mãe, Ashir Sadan desenvolveu-se ao longo dos anos, sobretudo com a bênção da nova igreja monástica por Dom Joseph Aind no dia 11 de Junho de 2023, r3eforçando assim o papel de centro espiritual. O programa educativo do mosteiro, especialmente a escola aberta em 2002 e o centro para moças gerido pelas irmãs da Apresentação desde 2006, continua a servir as diversas comunidades do distrito de Jorhat. O centro de retiros que existe desde 2006 acolhe padres e religiosos do Nordeste da Índia para um tempo de contemplação e de reforço espiritual. Como casa de noviciado do priorado Saint Joseph, Ashir Sadan formou futuros monges e formou padres locais, como o P. Jiten Urang e o P. Philip Kujur, consolidando assim sua herança de ser centro de vocações e de esperança na região até 2025.

O mosteiro e a nova igreja.
O mosteiro e a nova igreja.

Dom Javier Aparicio Suarez

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Notícias

Dom Javier Aparicio Suarez

Novo Abade Presidente da Congregação de Sankt-Ottilien

Boletim informativo de (www.erzabtei.de)

 




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Em 18 de janeiro de 2025, os Beneditinos Missionários de Sankt-Ottilien elegeram o Padre Javier Aparicio Suárez, de 55 anos, como seu 7º Abade Presidente. Ele sucede o Padre Jeremias Schröder, que foi eleito Abade Primaz dos Beneditinos em Roma em setembro passado. A sede oficial do Abade Presidente está tradicionalmente localizada em Sankt-Ottilien, na Alta Baviera. É lá que o Padre Javier tem trabalhado nos últimos quatro anos como procurador dentro da administração da Congregação. Ele foi ordenado abade imediatamente após sua eleição.

O novo presidente da Congregação nasceu em 1969, em Valladolid (Espanha), em uma família com forte formação cristã. Depois de concluir seus estudos secundários em 1986, passou a estudar filosofia e teologia na Universidade de Navarra em 1987, enquanto estudava piano no conservatório de música de Pamplona. Em 1990, ingressou na Ordem dos Agostinianos Recoletos de Navarra. Depois de ser ordenado sacerdote em 1994, trabalhou durante três anos como diretor de uma escola primária e secundária no sul da Espanha. Em 2001, junto com dois monges de Silos, fundou o mosteiro de San Salvador del Monte Irago, um mosteiro no caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, que pertence à arquidiocese de Sankt-Ottilien.

Em 2004, ele transferiu sua estabilidade para Sankt-Ottilien. Em 2006, tornou-se Padre hospedeiro da Arquidiocese de Sankt-Ottilien, onde também atuou na formação dos noviços do mosteiro. De 2010 a 2021, atuou como superior do mosteiro de Rabanal del Camino, no Caminho de Santiago, na Espanha, e também foi membro do Conselho da Congregação. Em 2021, foi nomeado Procurador Geral da Congregação, cargo que ocupou até sua eleição. Essa função envolve principalmente a coordenação de projetos e finanças em todo o mundo. Nessa função, ele visitava regularmente todos os mosteiros da Congregação na Europa, África, América e Ásia.

A Comissão sobre a China

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Notícias

Dom Bernard Lorent Tayart, osb

Presidente da AIM



A Comissão sobre a China

 

Em 15 de março de 2025, os membros da “Comissão Beneditina sobre a China se reuniram em Santo Anselmo sob a presidência do Abade Primaz. Estavam presentes delegados de Congregações ou Ordens interessadas na China pelas seguintes razões: alguns de seus membros estão ativos na China ou são de origem chinesa; algumas abadias acolhem candidatos chineses ou mesmo vietnamitas em suas faculdades de teologia; outras traduzem e preparam material teológico para vocações chinesas; são vizinhas da China, como alguns mosteiros na Coreia do Sul ou em Taiwan; outras têm laços históricos e amizades que remontam aos tempos missionários; e, finalmente, vivem em Hong Kong ou Macau, que gozam de um status especial na China. O objetivo era discutir as atividades e os desafios da vida beneditina na China e explorar oportunidades para estudos teológicos e intercâmbios culturais.

Os testemunhos mostram uma presença monástica que deve se adaptar às exigências políticas, praticando uma atividade pastoral, de acolhimento e cuidados feitos com discrição; e aceitando restrições relativas à participação na missa ou, em outra área, à aquisição de propriedades.

Dois membros do Dicastério para a Evangelização nos apresentaram o Escritório “China“ do Dicastério para as Relações com a Igreja na China e a “Comissão Pastoral da China», que também cuida dos chineses que vivem fora da China. Embora a vida religiosa institucional para homens ainda não seja autorizada no país, todos os bispos da China estão agora em comunhão com o Santo Padre, mesmo ainda não existindo uma Conferência Episcopal Chinesa oficialmente reconhecida pela Santa Sé. O importante é dar pequenos passos e a necessidade de compreender que a mentalidade chinesa é diferente e tão respeitável quanto a mentalidade ocidental.

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