Jubileu da AIM

P. Martin Neyt, OSB

mneytPor ocasião das celebrações do Jubileu, na Abadia de Saint-Martin, em Ligugé (França), a tônica foi dada por quatro conferências que apresentaram a visão e o comprometimento da AIM com relação às comunidades monásticas da América Latina, da África e da Ásia. Na primeira, Dom Albert Rouet, Arcebispo emérito de Poitiers, procurou situar os mosteiros na vida da Igreja local. O conjunto dessas reflexões orientam o presente e o porvir do monaquismo, revelando a encarnação lenta e progressiva do Evangelho nas mais diversas culturas. Estas vão assim adquirindo uma nova dimensão, transformando tradições culturais seculares ao se deixarem penetrar pela novidade do Evangelho mediante a oração e o trabalho das comunidades monásticas.

Antes de mencionar alguns aspectos fundamentais que estão na origem dessas transformações, é com profunda emoção e imenso reconhecimento que gostaria de evocar, em nome da AIM, a memória de Dom Marie-Bernard de Soos, falecido na Abadia de En-Calcat, aos 88 anos de idade. Funeral sóbrio, carregado de emoção e de respeito, impregnado de fé, amor, esperança e gratidão para com esse grande monge, fundador da Abadia de Dzogbegan, no Togo, Secretário-Geral da AIM durante quinze anos e responsável pelos Oblatos de seu mosteiro até o último suspiro. «Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar!» – exclama o salmista. Que este servo bom e fiel entre na alegria de seu Senhor, ele que consagrou sua vida a conhecê-Lo e a torná-Lo conhecido, como tão bem sublinhou seu Abade na homilia publicada neste Boletim.

Todo encontro, como esse do Jubileu de Ouro da AIM, compreende quatro dimensões: diante de nós, as circunstâncias que o suscitaram; à direita, as fisionomias que vemos, de nossos irmãos e irmãs que encontramos; à esquerda, jorra a palavra, palavra de acolhimento, da descoberta do outro, da superação das prevenções e dos mal-entendidos provocados pela língua e os costumes diferentes, de uma comunicação verdadeira e sincera; e, finalmente, atrás de nós, se posiciona o futuro. Podemos então, enriquecidos pelo que foi vivido, visto e ouvido, partir novamente em direção ao desconhecido dos dias que hão de vir.

OfficeAs circunstâncias desse encontro nasceram na própria Abadia de Ligugé, em 1961. Cinquenta anos mais tarde, o Abade, Dom Jean-Pierre Longeat, OSB, e sua comunidade nos receberam de modo inesquecível: celebrações litúrgicas, concerto, refeição servida no claustro à luz de velas... O essencial permanece invisível. A evocação da história monástica recente – 1961-2011 – ligava o passado a esses momentos intensos, em presença de numerosas pessoas que tiveram nela participação ativa. O filme «Si loin si proche» refletia, a guisa de exemplo, a diversidade de algumas comunidades monásticas. E um livro, ainda no prelo, apresentará vários testemunhos dessa história e do trabalho realizado pela A.I.M. Novas fisionomias iam aparecendo à nossa vista.

Elas se abriam para a França, a Europa, os Estados Unidos, os continentes latino-americano, africano e asiático. O olhar focalizado foi o do mistério de amor entre Cristo e sua própria carne, seu Corpo (Ef 5,28-29), como frisou Dom Rouet a propósito do lugar do monaquismo na Igreja. Essa visão, simbolizada pela «catedral de Rodin», que mantém aberto um espaço entre os seres, é a visão de um Deus que ninguém possui e que nada encerra. Abram-se, portanto, nossos olhares, cada vez mais, para esse mistério tão respeitador dos seres e das coisas, como nos convida, de um outro modo, a Regra beneditina.

À direita, as fisionomias encontradas, à esquerda, a palavra. Foi ela que engendrou muitas aberturas, encontros, formações. A AIM sempre apoiou o surgimento de associações regionais, nacionais e internacionais. Monges e monjas de todas as Ordens monásticas oriundas de São Bento nela se encontraram. Foi aqui, no crisol das trocas de experiências vividas, de um novo discernimento e de comprometimentos, que o monaquismo encontrou uma nova energia para continuar o trabalho já encetado. A exposição de Madre Irene Dabalus, OSB, acentuou esse chamado a continuar estimulando a AIM e, através dela, as comunidades monásticas de todos os continentes, para que o zelo em inovar (com relação ao clima, à justiça, às crises econômico-financeiras) e em resistir às forças contrárias levem a melhor sobre as dificuldades encontradas. Da África, Dom Boniface Tiguila, OSB, reflete sobre a maneira de dar e receber: duas espiritualidades que ainda precisam ser desenvolvidas e aprofundadas. Já Dom Abade Guillermo Arboleda, OSB, evidencia o desenvolvimento dos mosteiros na América Latina, ontem, hoje e amanhã. Extraordinário caminho de encontros, clarificação e comunhão sob a ação do Espírito Santo; a situação de crescente pobreza e desigualdade social escandalosa interpela fortemente a vida das comunidades urbanas ou não. Ele menciona algumas exigências do Espírito às comunidades evocadas por ocasião do último encontro do EMLA, que constituem todo um programa de vida. A seu modo, a presença discreta da A.I.M. acompanha e conforta a caminhada dessas comunidades.

Nesse Boletim, apresentamos também a primeira parte de um belo artigo de Irmã Lisa Cremaschi, da Comunidade de Bose, na Itália, que coloca em evidência a importância da paternidade espiritual no monaquismo antigo. Essa realidade, sempre atual, se harmoniza bem com os testemunhos de vida fraterna provenientes do Vietnã, da Costa do Marfim e de Angola.

É nessas perspectivas que se abre o futuro, voltado para a vinda de Cristo segundo uma bela fórmula de Serapião de Thmuis: «Vós que viveis em comunidade, vós também antecipais o futuro de vosso desejo».

P. Martin Neyt, OSB,
é monge do Mosteiro de Saint-André de Clerlande (Bélgica)
e Presidente da AIM

Traduzido do francês por Dom Matias Fonseca de Medeiros, OSB